Rani Lakshmibai, a rainha guerreira que lutou pela Independência da Índia, tornando-se um símbolo de resistência ao domínio britânico e um ícone do feminismo no país!
(Image: Special Arrangement/News18).
Rani nasceu em 1835, em Kashi Varanasi, no nordeste da Índia. Sendo chamada pelo nome de Manikarnika. Recebendo carinhosamente da família o apelido de Manu. Perdeu a mãe aos 4 anos e foi morar com seu pai, um comandante militar, chamado Tambe. Logo depois, viajou para a corte do marajá de Jhansi, Raja Gangadhar.
Maharaja Gangadhar Rao. Photo courtesy: alchetron.com.
Jhansi, era um estado principesco independente, com governo próprio, em meio a uma Índia cada vez mais dominada pelo Império britânico. Durante todo o século XIX, a Inglaterra imperialista deteve o controle mundial sobre a exploração dos recursos naturais, a mão-de-obra e o mercado consumidor de suas colônias, dentre elas a Índia.
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Essa exploração era feita através da chamada “Companhia das Índias Orientais britânica”, uma instituição poderosa, com interesses próprios que, em nome do governo, detinha o monopólio do comércio mundial, exercendo jurisdição civil e criminal sobre áreas controladas pelos britânicos e tinha o poder de comandar fortalezas e tropas.
🇬🇧For God, King and Country🇬🇧 on Instagram_ “An original drawing of the British East India Company I made”.
Em meio a essa índia dominada, Rani, foi alfabetizada em casa e teve uma educação incomum para uma garota daquela época. Ela foi treinada em artes marciais, que incluía equitação, tiro com arco e fecha e esgrima. Formando mais tarde seu próprio exército com mulheres.
Essa independência se deve ao fato que seu pai exercia grande influencia na corte do Marajá e dava a Rani uma maior liberdade comparado a outras mulheres da corte. As atitudes peculiares de Rani eram vistas com espanto pelos membros da corte, que não entendiam as suas inclinações pelos exercícios físicos.
Porta retrato em miniatura de Rani Lakshmibai.
Apesar disso, a mesma foi considerada bonita e bem instruída o suficiente para se casar. E com apenas 13 anos ela se casou com o Marajá de Jhansi, um homem muito mais velho que ela. Rani passou a se chamar pelo nome pelo qual a conhecemos hoje: Rani Lakshmibai, em homenagem a deusa da riqueza e da sorte.
Aos 22 anos Rani deu à luz um filho que faleceu com apenas 4 meses de vida. Após a morte de seu filho, ela e seu marido adotaram uma criança, um menino chamado, Damodar Rao. A criança foi nomeada sucessora do marajá em uma cerimônia de adoção diante das autoridades britânicas e de toda a corte de Jhansi.
Na ocasião, O marajá, em uma carta endereçada aos britânicos, solicitou que seu filho fosse aceito como seu sucessor e Rani como sua regente. Porém, quando o marajá morreu aos 56 anos, os britânicos não mantiveram o acordo. Como Damodar foi adotado e não era biologicamente relacionado com o Marajá, a Companhia das Índias Orientais, usou a “Doutrina do Lapso”.
De acordo com essa política, se um rei não tivesse nenhum sucessor biológico, e morresse, toda a administração e gestão do Estado deveria ficar nas mãos dos britânicos. Sendo assim, os britânicos, ordenaram a fusão de Jhansi com o Império Britânico. A rainha recebeu 60.000 rúpias como pensão e foi obrigada a deixar o palácio do forte Jhansi. Rani, se recusou a aceitar a anexação. Mas decidiu não entrar em um confronto direto com a coroa britânica.
Deixando um pouco de lado esse impasse, Rani, tinha uma outra questão a resolver, ela era viúva e de acordo com a tradição Indiana, ela deveria cometer o Sati. Sati é um antigo costume entre algumas comunidades hindus, hoje em dia estritamente proibido pelas leis do Estado Indiano, que obrigava a esposa viúva a se sacrificar viva na fogueira da pira funerária de seu marido morto.
A Sati painting | Photo: Parkour4u.
A ideia é que a vida da mulher perde o sentido na ausência do marido e, por isso, não há porque continuar. O sati era supostamente uma prática que deveria ser voluntária mas sabe-se que muitas vezes foi forçado nas mulheres. No entanto, Rani decidiu não realizar a prática e isso não foi visto como uma atitude inadequada ou rebelde. Como ela era rainha, teria sido aceitável e conveniente para a situação que Rani servisse como regente ao herdeiro adotivo.
Em 10 de maio de 1857, o primeiro movimento de Independência da Índia se iniciava, conhecido como a revolta dos Cipaios, essa rebelião foi comandada por soldados hindus e muçulmanos, contra a dominação e exploração britânica. O grande estopim da revolta, foi a utilização de gordura animal de vaca e de porco para impermeabilizar as munições das armas utilizadas pelos soldados indianos.
Reprodução
Como eles tinham de rasgar as cápsulas com a boca, acabavam ingerindo aquela gordura, o que era considerado intolerável uma vez que o consumo de carne de porco e carne bovina viola as leis alimentares de muçulmanos e hindus. Embora não haja evidências de que qualquer material tenha sido, de fato, usado.
A rebelião chegou as terras de Jhansi. Rani conseguiu convencer os rebeldes a depor as armas, mas não contava com o fato dos mesmos logo depois massacrarem oficiais britânicos e suas famílias. Rani, negou sua participação no evento sangrento, mas até hoje não sabemos se ela esteve envolvida ou não. Os britânicos não acreditaram na Rainha.
Enquanto isso, a rebelião começou a se espalhar por toda a Índia. Durante este período caótico, os britânicos foram forçados a focar sua atenção em outros lugares, Rani foi deixada para governar Jhansi sozinha. E para piorar a situação, Jhansi foi atacada por duas cidades vizinhas (Orchha e Dutra).
Para defender-se Rani solicitou auxílio aos britânicos, porém não obteve resposta. Sendo assim ela decidiu repelir a tentativa de invasão sozinha. Ela montou um arsenal de canhões e recrutou soldados, vencendo os invasores. Através desta liderança, Rani foi capaz de manter Jhansi relativamente calmo e tranquilo no meio da agitação do Império.
Pintura de Maharani Laxmi Bai, Image :Credits: the lost gallery.
Assim que os britânicos tiveram notícias da vitória de Rani, decidiram enviar tropas para auxilia lá, mas já era tarde demais. Até este ponto, a rainha tinha hesitado em rebelar-se contra os britânicos. Sua hesitação, finalmente terminou quando as tropas britânicas chegaram a Jhansi, sob comando de Sir Hugh Rose.
Rani declarou que lutaria pela independência de suas terras. A rainha formou um exército de voluntários, de homens e mulheres, que receberam treinamento militar, liderando-os pessoalmente. Os britânicos deram então início ao cerco a cidade de Jhansi. Rani lutou ferozmente contra os invasores mas, após um severo bombardeio as muralhas que cercavam a cidade, os britânicos finalmente conseguiram entrar.
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Rani percebendo a queda iminente da cidade, tomou uma atitude lendária, pulando das muralhas da cidade de cavalo com seu filho adotivo amarrado nas costas com um lenço. Ela conseguiu fugir e se juntou com mais rebeldes.
Rani Lakshmibai - Filme.
Depois de algumas batalhas, os britânicos deram fim a rebelião, causando a morte da rainha, que tinha apenas 29 anos. Algumas fontes, nos dizem que Rani, foi baleada nas costas por um soldado e quando ela se virou para disparar de volta, ele a atravessou com sua espada e a matou. Outros relatos nos dizem que Rani cometeu suicídio. A rainha foi cremada e suas cinzas foram depositadas embaixo de uma árvore, em Phool Bagh.
O pai de Rani, foi capturado e enforcado alguns dias após a queda de Jhansi. O filho adotivo do Rani, Damodar, fugiu com seus guardiões. Em seu livro de memórias, ele descreve anos de grande sofrimento enquanto ele e seus protetores lutavam para sobreviver em meio a selva. Algumas pessoas tiveram pena dos fugitivos; outros recusaram-lhes ajuda por medo de represálias dos britânicos.
Eventualmente, Damodar se rendeu às autoridades, que lhe concederam uma pequena pensão. Ele viveu seus dias na pobreza e morreu na obscuridade. Seus descendentes nunca receberam reconhecimento do governo como membros da família de Rani.
A Rebelião Indiana de 1857, foi o início de uma luta muito maior que duraria quase um século. No início da década de 1940, o Exército Nacional Indiano começou a luta. Entre suas fileiras estava um batalhão formado somente por mulheres chamado Rani do Regimento Jhansi, nomeado em homenagem a Rainha.
Regimento feminino Jhansi
Noventa e sete anos depois da morte e Rani, a Índia alcançou sua independência em 15 de agosto de 1947.
Without war or revolutions, India gained independence on August 15, 1947. Credit: web mihistoriauniversal.
Por causa de sua bravura, coragem e sabedoria, e suas opiniões progressistas sobre a emancipação das mulheres no século 19 na Índia, ela se tornou um ícone do movimento de independência e do movimento feminista no país. Rani foi imortalizada em estátuas de bronze que a retratam montada em um cavalo.
Estatua de Lakshmibai. Crédito: Wikipedia.
O general britânico Sir Hugh Rose, que lutou contra a rainha, declarou certa vez:
“Dos amotinados, Rani foi a mais corajosa e a melhor de todos os líderes indianos”.
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