A casa imperial do Japão é considerada a mais antiga do mundo, remontando ao século VII a.C., e com uma linhagem masculina que, segundo historiadores japoneses, não sofreu nenhuma interferência em seus 2.600 anos de existência.
Porém, isso pode mudar, pois a família imperial japonesa está encolhendo e pode enfrentar uma crise de sucessão nas próximas décadas e com isso sua extinção.
Imperador Naruhito e a Imperatriz Masako.
No dia 8 de novembro de 2020, foi realizada uma tradicional cerimônia no Japão, a qual nomeou formalmente o herdeiro ao trono imperial japonês, o príncipe Akishino de 57 anos.
Imagem: canal @históriafeminina.
Ele é irmão mais novo de Naruhito, que, desde 2019, quando seu pai Akihito renunciou, é o atual imperador do país.
Antigo imperador Akihito Novo Imperador Naruhito Príncipe Herdeiro Akishino
Depois de Akishino, os próximos na linha de sucessão são seu filho de 16 anos, Hisahito, e o irmão mais novo do antigo imperador, o príncipe Hitachi, que tem hoje 87 anos.
Príncipe Hisahito (direita) e o Príncipe Hitachi (esquerda).
Sendo os únicos herdeiros masculinos da casa imperial japonesa. Sabendo disso, você pode estar se perguntando: mas por que o irmão? O imperador Naruhito não teve filhos? E, porque não colocar também herdeiras femininas.
Sim, o atual líder japonês possui uma única filha, Aiko. Porém, ela jamais poderá se tornar imperatriz, pois pela lei atual, apenas homens descendentes de um imperador pelo lado paterno podem ascender ao trono.
Princesa Aiko.
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Deste modo, com as mulheres excluídas do trono, o lugar do imperador Naruhito, de 63 anos, será um dia preenchido pelo sobrinho, o príncipe Hisahito, em vez do seu único descendente, a princesa Aiko.
Mas se Hisahito, de 16 anos, não tiver um filho, a família real, cuja história remonta há mais de quatorze séculos, ficará sem herdeiros homens e a linha de vários séculos de sucessão masculina pode ser interrompida.
Além disso, quando uma integrante do gênero feminino se casa com um não-membro, ou seja, com um plebeu, ela deve deixar seus títulos reais, não sendo mais princesa, de modo que seus filhos também não terão influência no que compreende o trono. O que diminui significativamente os membros da casa imperial japonesa que é atualmente composta por dezessete membros reais vivos, sendo doze mulheres e cinco homens.
Família Imperial japonesa.
Aí eu me pergunto? É tão difícil cogitar a possibilidade de uma imperatriz herdar o trono japonês. Pois, segundo a própria religião xintoísta, a família imperial é descendente direta, não de um deus e sim de uma deusa “Amaterasu”.
Deusa “Amaterasu”.
Bom, as sondagens mostram que os japoneses apoiam de forma generalizada a ideia de uma mulher assumir o papel de imperatriz, um cargo que atualmente não detém nenhum poder político, mas de uma enorme importância simbólica.
No entanto, existe a pressão, por parte dos políticos e eleitores conservadores de que o Japão não deve quebrar a “linha imperial intacta”. Mas, a princesa Aiko, não é descendente direta do imperador e mais velha do que o seu primo Hisahito.
Pois é, já se ligaram no motivo, né?
MACHISMO!
Imperatrizes Japonesas
Apesar de no presente, as mulheres não possuírem direito à herança do trono, no passado tudo era diferente. Dos 126 monarcas, 8 foram mulheres. Essas imperatrizes governaram o Japão, exercendo poder de fato sobre o império.
As oito Imperatrizes do Japão foram:
Imperatriz Suiko — 33ª regente do trono crisântemo, reinou de 593 a 628;
Imperatriz Kōgyoku — 35ª e 37ª regente do trono crisântemo, seu primeiro reinado foi de 642 a 645, o segundo reinado aconteceu de 655 a 661;
Imperatriz Jitō — 41ª regente do trono crisântemo, reinou de 686 a 697;
Imperatriz Genmei — 43ª regente do trono crisântemo, reinou de 707 a 715;
Imperatriz Genshō — 44ª regente do trono crisântemo, reinou de 717 a 725;
Imperatriz Kōken — 46ª e 48º regente do trono crisântemo, seu primeiro reinado foi de 749 a 758, o segundo reinado aconteceu de 764 a 770;
Imperatriz Meishō — 109 ª regente do trono crisântemo, reinou de 1629 a 1643;
Imperatriz Go-Sakuramachi — a 117ª regente do trono crisântemo, reinou de 1762 a 1771.
Uma delas foi a da imperatriz Suiko-Tenno, a 33ª monarca do Japão, que governou por um período de 35 anos (de 592 a 628 da era comum) e que incentivou o florescimento do budismo e da cultura chinesa nos seus domínios.
Imperatriz Suiko-Tenno.
Ela é considerada oficialmente como a primeira mulher a governar o Japão, numa época em que outras mulheres não tinham tanto destaque na política.
A última imperatriz a governar o Japão foi a imperatriz Go-Sakuramachi (1762 – 1770).
Imperatriz Go-Sakuramachi.
Durante seu tempo como uma imperatriz, ela escreveu um livro chamado “Kinchū Nenjūno Koto”, que inclui poemas, cartas e várias crônicas — um importante documento histórico que fala de assuntos políticos, bem como culturais, durante o tempo de seu reinado no Japão.
Lei de "exclusão".
A lei que impede as mulheres de reinar foi promulgada há 130 anos, a partir do Período Meiji. Com o fim do regime feudal do xogunato, em 1868 e a volta da família imperial como os governantes do país, o Japão queria entrar nos moldes do mundo ocidental, especificamente da Europa.
Família imperial japonesa (Período Meiji - 1868 a 1912).
Assim, a constituição Meiji de 1889, alterou a lei de sucessão ao trono japonês proibindo a sucessão feminina. Esta mudança na lei foi influenciada pela constituição da Prússia que também proibia as mulheres de ascenderem ao trono. Outro fato importante que alterou a lei de sucessão japonesa, foi a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, as regras de sucessão real são ditadas pela Lei da Casa Imperial. Essa lei, elaborada em 1947 e incluída na nova constituição imposta pelos Estados Unidos, no pós-guerra, ao Japão, visou eliminar a nobreza do país, estabelecendo que a sucessão se faria exclusivamente por linha paterna e masculina. Assim, somente meninos nascidos da linhagem paterna podem ocupar o trono.
Imagem: canal @históriafeminina.
Na época também ficou estabelecido que qualquer princesa da Casa Imperial que se casa com um plebeu, deixa de fazer parte da família real. Isso não se aplica aos príncipes do Japão que podem conferir status real às esposas plebeias.
A Carta Magna também restringiu o número de membros aos descendentes do imperador Taisho (avô de Akihito). A determinação excluiu onze ramos da família real, cujos integrantes tiveram que renunciar à dinastia, isso reduziu substancialmente o número de integrantes.
Mudança na Constituição Japonesa.
A constituição japonesa foi elaborada no final da guerra para um Japão muito destruído e humilhado pelos norte-americanos, sendo feita para um país ainda profundamente tradicional e rural. Sete décadas depois, o Japão mudou totalmente. Em termos econômicos é uma das grandes potências, que lhe dá lugar importante na área política internacional.
Japão 1947 - Atualmente.
Em termos de infraestruturas, o Japão é dos mais avançados países, embora seja ainda um dos mais tradicionais e conservadores também. A sucessão real e as questões que a rodeiam continuam a ser um tema delicado, estreitamente ligado a ideias de identidade nacional.
Família Imperial japonesa.
Durante as últimas décadas houve intensos debates sobre essa questão, quando a família imperial percebeu que havia cada vez menos chances de manter uma linha de sucessão masculina.
De 1965 e 2006, nenhum menino nasceu na Família Imperial do Japão. Duas décadas atrás, o então príncipe herdeiro Naruhito e sua esposa, a princesa Masako, estavam tendo dificuldade para conceber um filho.
Quando sua única filha, a princesa Aiko, nasceu em 2001, iniciou-se um debate nacional sobre a possibilidade de mudar essa lei antiga para que um dia ela pudesse se tornar imperatriz. No entanto, com o nascimento de seu sobrinho, o príncipe Hisahito, em 2006, pois fim ao debate.
Imperatriz Masako.
Em 2017 essa questão ressurgiu, desta vez em razão do anúncio do noivado da princesa Mako com um plebeu, surgindo o debate sobre uma revisão da lei. Pois como ela se uniu a um cidadão comum, teve de renunciar seus títulos, não tendo seus futuros herdeiros, direito ao trono. O que diminui os membros da realeza, ainda mais.
Ex-princesa Mako e o marido Kei komuro.
Entre as propostas apresentadas ao governo, para solucionar esse dilema, seria a de permitir que as mulheres da realeza mantenham seu título e deveres públicos, quando se casarem com plebeus, aumentando, assim as possibilidades do nascimento de herdeiros masculinos na família imperial. Mas os políticos conservadores se opõem a essa alternativa, pois isso romperia a pureza de uma linhagem patriarcal de milênios.
O que é contraditório, pois grande parte dos imperadores se casou com mulheres de origem plebeia sem que isso tenha sido visto como obstáculo à pureza do sangue da família.
Imperador emérito Akihito e a Imperatriz emérita Michico (Plebeia).
Outra solução seria permitir que homens de onze antigos ramos da família real, abolidos nas reformas do Pós-Segunda Guerra Mundial, voltem à linha direta de sucessão.
Houve até quem sugerisse, em pleno século XXI, a possibilidade do imperador voltar a ter concubinas para garantir a sucessão. Na antiguidade, concubinas engravidavam de imperadores e davam à luz filhos nomeáveis ao trono. O costume foi abolido após a Segunda Guerra Mundial.
Entre as propostas, manteve-se a preservação do sistema de sucessão imperial apenas masculino, pelo menos até que o príncipe Hisahito assuma como imperador, apesar da Família Imperial Japonesa ter um número cada vez menor de homens.
Príncipe Hisahito.
Alguns especialistas observam que as ideias mais recentes apresentadas, para aumentar o número de membros da realeza, estão desatualizadas. E não resolvem o problema do sistema de sucessão imperial.
Saúda mental das mulheres reais.
O dever de dar à luz um menino, para assegurar a continuidade da linhagem, recai sobre os ombros das mulheres imperiais japonesas. Mesmo sendo cientificamente comprovado que quem determina o sexo do bebê é o pai, ao enviar um cromossomo X ou Y em seu espermatozoide. A mãe só recebe esse espermatozoide, em seu óvulo, que pode ser masculino ou feminino.
A atual Imperatriz Masako é um exemplo do peso social e as duras consequências físicas e mentais que isso traz. Durante anos ela foi muito cobrada pela sociedade japonesa a ter um filho, porém, o casal teve apenas uma filha, a princesa Aiko. O inferno vivido pela Imperatriz Masako ficou menos pior em 2006 com o nascimento sobrinho de Hisahito.
Imperatriz Masako.
Masako foi uma das raras diplomatas mulheres do Ministério das Relações Exteriores do Japão. Foi diplomada, com grandes honras, em economia na Universidade de Harvard.
Cursou relações internacionais na pós-graduação na prestigiada Balliol College, Universidade de Oxford. Trabalhou negociando tecnologia de supercondutores com os E.U.A, além de ter conhecido os ex presidentes Bill Clinton e Boris Yeltsin.
A Imperatriz poderia ter tido uma impressionante carreira pública e recusou os pedidos de casamento de Naruhito (que insistiu ao longo de seis anos). Contudo, a mesma renunciou a sua carreira para se casar com o imperador.
Imperador Naruhito e a Imperatriz Masako.
Quando o casal Imperial se casou em 1993, houve expectativas de um novo herdeiro dado que o último homem nascido na família Imperial foi o príncipe herdeiro Fumihito, em 1965.
A demora para dar um herdeiro fez com ela fosse acusada, pela sociedade japonesa, de ameaçar de extinção a dinastia do marido. A pressão foi tamanha que durante anos ela se manteve fora da vida pública com graves sintomas de depressão. As cicatrizes permanecem até hoje e ela se mantém relativamente afastada dos compromissos públicos.
Sua antecessora, a imperatriz aposentada Michiko, também sofreu um episódio de forte estresse quando Akihito se tornou Imperador, em 1989, após a morte de seu pai Hirohito.
Imperatriz emérita Michiko.
Michiko se formou, com honras, pela Universidade do Sagrado Coração de Tóquio, no curso de literatura, foi presidente do corpo estudantil e oradora de sua turma. A imperatriz aposentada também passou por cursos em Harvard e Oxford.
Quando a coroa japonesa repousou em sua cabeça em janeiro de 1989, periódicos e tabloides com pouca ou nenhuma ética atacavam gratuitamente a Imperatriz. Apesar de toda a publicidade negativa criada em torno dela, ao longo do tempo a Imperatriz reformada conseguiu cativar a população com sua natureza dócil e gentil.
Contudo, diferente da atual Imperatriz Masako, Michiko teve três filhos, o Imperador Naruhito, o príncipe herdeiro Fumihito e a Princesa Nori, portanto, nesse aspecto, não sofreu o mesmo que sua sucessora.
Da esquerda para direita - o Imperador Naruhito, o príncipe herdeiro Fumihito e a Princesa Nori.
Conto de Fadas?
Embora deixar de lado as regalias da vida num palácio para se casar com uma pessoa comum lembre o enredo de um conto de fadas, o fato é que as princesas do Japão têm poucas opções com relação à seleção de parceiros. A única alternativa para as mulheres da realeza se manterem na família real seria não se casar.
Ex princesa Mako.
Pois, como vimos, as princesas ao se casarem com um plebeu, perdem seu status real. A menos que elas resolvam trocar alianças com um parente de sangue masculino-algo quase impraticável numa família em que só três homens são elegíveis (príncipes Hisahito, 16 anos; Akishino, 57; e Hitachi, 87).
A elas é de direito um dote equivalente a R$ 7 milhões ao deixarem a Coroa. Mako tornou público o desejo de não receber a quantia, decisão sem precedentes no império japonês, quando decidiu se casar com um plebeu, Kei Komuro. Sendo a oitava princesa a deixar a família real japonesa.
Kei komuro e Mako.
A ex-princesa Mako não escapou do julgamento patriarcal da sociedade japonesa. O assédio midiático e social em relação seu noivado a levou a um estado de PTSD (perturbação de estresse pós-traumático). O casal foi atacado constantemente na internet, revistas e tabloides, sobre as supostas dificuldades financeiras da família de Kei.
“Fiquei assustada, sentindo tristeza e dor quando os boatos viraram histórias sem fundamento”, disse Mako em uma entrevista coletiva após o casamento. Kei declarou que ficou “muito triste por Mako ter enfrentado dificuldades mentais e físicas”, reafirmando por fim, seu amor por ela. Seu casamento com Komuro, foi celebrado no dia 26 de outubro de 2021.
Kei komuro e Mako em entrevista após o casamento.
Em abril de 2022, Maiko passou a fazer parte da equipe de curadores do "The Metropolitan Museum of Art of New York City", o Met. Desde então, auxilia na organização do local, conhecido mundialmente por abrigar obras respeitadas, além de receber anualmente o evento Met Gala.
A psiquiatra Sayoko Nobuta, especialista em violência doméstica comentou o caso:
Psiquiatra Sayoko Nobuta.
“Acredito que o principal objetivo da ex princesa era escapar, acho que ela viu em Komuro alguém que poderia ajudá-la a conquistar esse objetivo”.
Sayoko Nobuta, afirma que é como se não houvesse direitos humanos para a família Imperial, principalmente para as mulheres. Além disso, agência do governo do Japão encarregada de assuntos de Estado relativos à Família Imperial, (Imperial Household Agency), já divulgou informações erradas sobre a condição de saúde psicológica das mulheres Imperiais. A agência não tem uma política clara nem aparenta saber como lidar com esse tipo de situação (interna e externa).
Rika Kayama, psiquiatra especializada em doenças mentais e famosa comentadora social do Japão comentou sobre os ataques contra a ex-princesa Mako:
Rika Kayama.
“Ainda que Mako fosse instruída a ignorar ou não se envolver com os ataques online, é impossível impedir que esse tipo de coisa influencie na vida cotidiana. É inevitável que isso rasgue o coração de qualquer pessoa”.
Princesa Aiko em foco.
Agora, quem está em evidência é a única filha do casal Naruhito e Masako, a princesa Aiko. No dia 1 de dezembro de 2021, a princesa Aiko atingiu sua maioridade ao completar vinte anos, passando a ocupar atividades oficiais da monarquia.
Princesa Aiko.
Quando era mais nova, se tornou alvo de especulações públicas sobre sua saúde mental, assim como Michiko, Masako e Mako, por sua ausência prolongada na escola e uma perda de peso causada por bullying no ambiente escolar. Aiko se manteve longe do olhar público.
Princesa Aiko e seus pais.
Há poucas fotos suas e ela raramente participava dos eventos oficiais promovidos pela família real. Atualmente, a princesa estuda literatura japonesa na Universidade Gakushuine entre seus passatempos estão a caligrafia, pular corda, escrever poesia, além de ser uma talentosa pianista e violinista.
Alguns especialistas que acompanham a realeza japonesa apostam que a princesa Aiko poderá abdicar de seu título nos próximos anos. Assim, como sua prima Mako. A justificativa para isso seria a subserviência/submissão obrigatória das mulheres que são membros da família real japonesa.
Dessas mulheres, é esperado um papel de “esposa e mãe” obediente, “servindo a autoridade masculina”, que inclui seu marido, seu pai e toda a nação. Houve avanços significativos da sociedade japonesa em relação à violência e a brutal desigualdade de gênero no país.
Mas, se as próprias mulheres imperiais sofrem com esse tipo de violência e desigualdade, ainda há muito o que fazer.
Conclusão.
Cabe aos devotos da família real japonesa a seguinte reflexão: como um rapaz de apenas 16 anos deverá se sentir diante da responsabilidade imposta de carregar sozinho a tradição de um império de quase 3.000 anos, que insisti em perpetuar a exclusão dos direitos das mulheres.
Imagem: canal @históriafeminina.
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Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:
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