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Arsínoe IV

Atualizado: 25 de jul. de 2023

A Princesa egípcia que ousou desafiar a poderosa Rainha Cleópatra!


Imagem ilustrativa - Arsínoe IV.


Cleópatra VII, já ouviram falar dela né?


Cleópatra é uma das mulheres mais conhecidas da história da humanidade, sendo a última faraó a governar o Egito antigo. Foi uma governante extremamente competente e feroz, uma mulher muito inteligente que dominava as artes da guerra e da política. Tinha grandes conhecimentos em matemática, filosofia e astronomia, hábil debatedora e era poliglota.



Cleópatra - Assassin's creed origins (Jogo).


Apesar dessas qualidades, ela ficou mais conhecida por usar o seu suposto poder de sedução em famosos comandantes romanos como Júlio César e Marco Antônio. E diante da iminente derrota, preferiu tirar a própria vida, usando veneno, a se entregar ao inimigo.


Pintura 'A morte de Cleópatra', Juan Luna (1881) - Wikimedia Commons/Juan Luna.


Mas, eu não vim falar dela e sim de sua meia irmã caçula, Arsínoe. Sim, Cleópatra tinha irmãos, mas precisamente dois irmãos e duas irmãs. Essa história é sobre poder, perda e rivalidade entre irmãs.


Arsínoe IV.


Arsínoe IV, era meia irmã mais nova de Cleópatra, filha do mesmo pai, o faraó Ptolemeu XII. A princesa nasceu por volta de 63 a.C., mas não há consenso entre os estudiosos, acerca do ano exato de seu nascimento. Mas a grande maioria concorda que Arsínoe era muito jovem quando os fatos históricos que descrevo, ocorreram.


Em 51 a.C., o faraó, Ptolemeu XII, morre deixando o trono para seus filhos mais velhos, Ptolemeu XIII, de apenas quatorze anos e Cleópatra, na época com dezoito anos, declarando-os co-governantes do Egito, ou seja, deveriam governar juntos. Segundo o costume egípcio, os membros da família real, irmão e irmã, deveriam casar entre si.


Assim, Ptolemeu XIII e Cleópatra se casaram.


Imagem do canal: @historiafeminina.


Apesar da aparência de uma família unida, existia uma questão crucial que os dividia. A nova e emergente superpotência da época, Roma! O Império Romano se expandia, além do oriente médio e pela primeira vez tropas romanas estabeleciam uma base militar no Egito.


Imagem Ilustrativa - Exército Romano.


Sendo assim, a dinastia egípcia tinha que decidir, se rebelar contra o exército invasor ou fazer uma aliança com Roma. Às duas escolhas envolviam um enorme risco, pois ficando do lado de Roma significaria uma rebelião e consequentemente uma guerra civil, por outro lado, resistir aos romanos seria se envolver em um conflito com a mais poderosa máquina de guerra da terra. Cleópatra queria se aliar com Roma e sua irmã, Arsínoe, queria se rebelar contra os romanos. Assim, a disputa entre as irmãs começava!


Imagem do canal: @historiafeminina.


Em 48 a.C., convencido por Arsínoe e seus aliados, Ptolemeu XIII, rompe a aliança com Cleópatra. Vale lembrar, que Arsínoe era muito jovem, quando se impôs contra os romanos e sua irmã Cleópatra. Alguns estudiosos mencionam que a mesma poderia ter doze anos nesse período. Mas não há consenso sobre isso. Segundo a premiada escritora, Stacy Schiff, observa que Arsínoe “ardia em ambição” e “não era o tipo de garota que inspirava complacência”.


É fascinante imaginar que uma garota tão jovem poderia ter essa atitude, ainda mais contra sua irmã mais velha que era ninguém menos que Cleópatra!


Cleópatra foi banida da capital Alexandria e se encontrou exilada, mas não se enganem, a rainha deposta não desistiu, A única maneira de reaver o seu trono era aliar-se a Roma. Enquanto isso, Roma estava envolvida em guerra civil, de um lado Júlio César e do outro Pompeu Magno, que lutavam, entre si, pelo controle de Roma. Pompeu foi derrotado na Batalha de Pharsalus na Grécia e fugiu para o Egito em 48 a.C., em busca de refúgio.


No entanto, Júlio César, ao chegar em Alexandria, em busca de seu rival, foi presenteado com a cabeça do mesmo. Provavelmente, Ptolemeu XIII, o faraó, e seus conselheiros organizaram o assassinato de Pompeu, para impressionar César.



Contudo, o "tiro saiu pela culatra", e a execução de seu amigo e inimigo de longa data acabou com a possibilidade de uma aliança entre ele e Ptolomeu, ficando César, mas propenso em se aliar à facção de Cleópatra.



Imagem Ilustrativa - Júlio César


Cleópatra, sabendo da chegada do comandante romano, enxergou uma oportunidade de reaver seu poder. Assim, em uma jogada muito bem calculada, a mesma conseguiu se infiltrar no palácio sem ser detectada, enrolando-se em tapete (não há consenso se foi exatamente assim), sendo “contrabandeada”, digamos assim, para dentro do palácio. Deu ordens aos seus aliados, para que ela fosse carregada e entregue a César. Essa estratégia entrou para a história!


Cleópatra e César (1866). Pintura de Jean-Léon Gérôme. (Domínio Público).


Cleópatra conseguiu entrar nos aposentos de Júlio César e impressionado com a atitude de uma jovem de vinte dois anos anos e de seu caloroso discurso sobre seu direito ao trono, decidiu se aliar definitivamente a ela. Esse ato de traição contra a ordem de seus irmãos, romantizado ao longo da história, monstra como Cleópatra foi extremamente inteligente e destemida.


Sucessão


O antigo faraó, pai dessa prole briguenta, havia deixado um testamento real, determinando que existindo um conflito sobre a sucessão, Roma deveria ser o juiz "imparcial". Ao ler o testamento, César ordenou que, sob supervisão romana, Cleópatra e Ptolemeu XIII governassem o Egito juntos, enquanto Arsínoe e seu irmão mais novo deveriam governar Chipre, um território que já havia sido controlado pelo Egito, mas fora anexado pelos romanos, em 58 a.C.


Imagem do canal: @historiafeminina.


Nenhum dos dois lados entraram em um acordo sobre a divisão do poder, deixando o cenário político do Egito muito tenso. Cleópatra com o apoio de César, conseguiu que Arsínoe fosse colocado em prisão domiciliar. Todavia a nossa princesa não cederia tão facilmente e com suas tropas aliadas, conseguiram sitiar o palácio, cercando o quartel-general de César.


Arsínoe, conseguiu escapar do palácio e da capital, com seu mentor, o eunuco Ganimedes, sendo levada aos líderes rebeldes e assumindo o comando do exército egípcio. Assim, Arsínoe, presumidamente com apenas doze anos ou mais, se autoproclamou Rainha do Egito, mergulhando de vez nesse conflito político.


Imagem ilustrativa - Arsínoe IV.


A nova rainha juntou-se ao general Achillas, que estava realizando um cerco na capital, Alexandria. Insatisfeita com comando de suas tropas, Arsínoe ordenou a execução de seu general Achillas e colocou Ganimedes em segundo lugar no comando do exército, uma clara indicação de seu poder e da força de seu comando. Então, partiu para lutar contra Cleópatra e as forças de César.


Neste ponto, as forças de César eram limitadas, e ele estava esperando por reforços da vizinha Síria. O líder romano ficou encurralado quando tentou tomar a ilha de Faros, onde estava o famoso Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Durante o combate, parte da Biblioteca de Alexandria foi queimada, sendo um verdadeiro desastre para a humanidade.


Biblioteca de Alexandria.


O exército de Arsínoe encurralou as tropas de Júlio César, infligindo lhe uma derrota humilhante, onde o próprio César foi forçado a arrancar sua armadura e seu famoso manto roxo, e nadar para a segurança de um navio romano próximo na baía. Essa batalha foi um triunfo para a Arsínoe, e a mesma foi presenteada com a capa roxa de César, um espólio de guerra que representava a derrota do herói de Roma por uma rainha adolescente. Se esse caminho vitorioso continuasse, uma nova Dinastia iria surgir! Lembraríamos da lenda da Rainha Arsínoe e não de Cleópatra.


Mas esse mundo alternativo não se concretizou, os rebeldes começaram a discutir entre eles e com pretexto de querer a paz negociaram com César a troca de Arsínoe por Ptolemeu XIII, que César ainda mantinha como refém. Depois que Ptolemeu foi liberto, ele continuou a guerra até que os romanos recebessem reforços e infligissem uma derrota decisiva sobre os egípcios. O faraó derrotado morreu afogado tentando fugir das tropas romanas através do rio Nilo.


Arsínoe, agora em cativeiro romano, foi transportado para Roma, onde em 46 a.C., foi exibida como troféu de guerra em um desfile feito em homenagem a César. Não contente Júlio César construiu uma efígie, um tipo de miniatura do Farol de Alexandria, o qual foi o cenário da vitória de Arsínoe sobre ele e o queimou na frente da jovem rainha derrotada.


Série: Roma (HBO).


Era costume estrangular os prisioneiros de guerra nesses desfiles. Aos olhos de César, Arsínoe era uma traidora, uma rebelde que iria sofrer as consequências de seus atos. Mas aos olhos da plateia que assistia ao espetáculo mórbido, via somente uma garota acorrentada, uma criança e não uma líder rebelde. Executar "bárbaros" era uma coisa, mas estrangular uma ex-rainha adolescente era outra bem diferente.


A libertação de Arsínoe por Jacopo Tintoretto.


Assim, com o clamor popular César se viu forçado a poupar Arsínoe, mas ele não poderia permitir que ela voltasse ao Egito, seria muito arriscado. Então a baniu e concedeu asilo político e a enviou para o templo de Artemis na cidade Éfeso, hoje localizado na Turquia moderna. Enquanto isso, Cleópatra estava segura no trono. Em vez de anexar o Egito a Roma, César devolveu o território, a sua aliada e amante.


Templo de Artemis.


Júlio César pensou ser o fim de Arsínoe, mas Cleópatra não compartilhava do mesmo pensamento. Contarei uma história rapidinho para vocês entenderem o medo de Cleópatra.


Cleópatra não foi a primogênita da família, ela tinha uma irmã mais velha chamada Berenice. Uma década antes dos acontecimentos que descrevo, essa princesa tentou tomar o poder de seu pai impopular e obteve êxito enviando o para o exílio. No entanto, o mesmo retornou do exílio e com o apoio dos romanos ordenou a execução da própria filha primogênita. Por isso o temor de Cleópatra, não havia razão para assumir que Arsínoe não seguiria o exemplo de seu pai.


Cleópatra ainda precisava da proteção de César, não podendo fazer nada contra sua irmã, enquanto o mesmo estivesse vivo. Arsínoe viveu no templo por alguns anos, sempre sobre o olhar atento de Roma e de sua irmã Cleópatra, que a via como uma ameaça ao seu poder. Alguns anos depois Júlio César é assassinato com vinte e três facadas. E infelizmente com esse ato brutal Arsínoe teve seu destino selado.


Júlio César sendo assassinado - Getty Images.


Cleópatra rapidamente ordenou a morto de seu irmão mais novo para dar lugar ao seu filho Cesariano, fruto de seu relacionamento com Júlio César, como governante conjunto. E em 41 a.C., por instigação de Cleópatra, Marco Antônio, que se tornou seu amante e aliado, ordenou a execução de Arsínoe nos degraus do templo de Artemis. Seu assassinato foi uma violação grosseira do santuário e um ato que escandalizou o mundo antigo.


Arsínoe morta nos degraus do templo - Central Comedy.


Onze anos mais tarde Cleópatra e Marco Antônio foram derrotados pelo comandante romano Otávio, que logo se tornaria o Imperador Augusto.


Poder de Arsínoe.


Há uma certa discussão acerca da idade de Arsínoe em relação à época em que ela acendeu ao trono e derrotou Júlio César em batalha. As idades variam entre doze, quinze e dezoito anos, e dos motivos, além de não termos seu corpo/tumba, é que muito difícil acreditar que uma garota tão jovem poderia exercer tamanho poder. Mas vamos às evidências.


1 — César após a traição do exército de Arsínoe, estava disposto a libertar Ptolemeu XIII, jovem este que deu claros indícios que continuaria a travar uma guerra contra ele apenas para colocar as mãos nela. Isso demonstra o quão Arsínoe era uma ameaça muito mais perigosa do que um faraó rebelde a solta.


2 — César um comandante experiente, via Arsínoe como um oponente forte se dando ao trabalho de exibi-la como um triunfo em Roma. E o mesmo, apesar da idade, iria estrangulá-la, pois, a reconhecia como uma ameaça ao seu poder no Egito.


3- Arsínoe veio de uma longa linhagem de mulheres que exerciam poder por direito próprio sendo forçadas, ainda muitos jovens, a lutar para manter seu trono, incluindo suas irmãs Berenice e Cleópatra, então ela estava cheia de modelos a seguir.


4 — Juventude não é sinônimo de incompetência ou fraqueza, basta olhar para os exemplos incríveis estabelecidos pelas ativistas Malala Yousafzai, Emma González e Greta Thunberg.


Da esquerda pra direita - Malala Yousafzai, Emma González e Greta Thunberg.


Além disso, ao longo da história, reis e imperadores ascenderam ao trono muitos jovens e tiveram que lutar para manter a coroa. Porque seria diferente com Arsínoe!


Segundo a escritora, Karen Murdarasi, Arsínoe:


“foi uma jovem com sua própria agenda, capaz de fazer e quebrar alianças, criar um exército, e saltar de volta após a derrota”.

Conclusão.


Não parece justo Arsínoe ser apenas uma nota de rodapé nos livros de história, enquanto sua irmã Cleópatra enche livros inteiros, para não dizer das dezenas de filmes e séries feitas ao seu respeito.


Segundo a escritora, Karen Murdarasi, Arsinoe era perigosa tanto quanto um homem poderia ser. Ela criou um exército, assim como Cleópatra, realizou alianças com generais e comandou soldados, assim como Cleópatra. Ambas foram agentes do seu próprio destino.


Conheça a história dela através de outras mídias digitais.



Para mais história das mulheres, acesse meu canal do Youtube: @historiafeminina - https://www.youtube.com/


Imagens usadas para ilustração do conteúdo:

  • Pinterist

  • Assassin's creed origins

  • Série - Roma -HBO

  • Arsínoe - Nefertiti, Sonya Novosolov Natan

Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:







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