Ana Bolena é umas das mais famosas e mais polêmicas rainhas inglesas da história!
Para quem não se lembra ou não sabe, Ana Bolena foi a segunda esposa de Henrique VIII, rei da Inglaterra. Seu casamento com o monarca inglês foi polêmico do ponto de vista político e religioso, no século XVI. Henrique VIII, era casado há mais de vinte anos, com Catarina de Aragão, princesa espanhola, católica convicta e uma rainha adorada pela população inglesa.
Ana Bolena Henrique VIII Catarina de Aragão
Apenas um, dos seis filhos do casal, sobreviveu a vida adulta, uma menina chamada Mary. O que não era o suficiente, pois somente um herdeiro do sexo masculino, podia garantir a continuidade da Dinastia Tudor no poder.
Mary I.
Frustrado e pressionado com a situação e já obcecado por Ana Bolena, Henrique VIII solicita ao papa a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, o que foi negado. Assim, o rei decidi, em um feito inédito a um monarca inglês, romper com a poderosa Igreja Católica, acabando com sua submissão ao Papa.
Em substituição, foi fundada a Igreja Anglicana, na qual o Rei é a autoridade suprema, o que deu a ele autonomia para decidir sobre assuntos religiosos. Inclusive anulações de casamento. E foi assim, que Henrique VIII, conseguiu seu tão esperado divórcio e seu casamento com Ana Bolena.
Imagem: Rainhas trágicas.
Ana permaneceu como rainha consorte por apenas três anos (1533-1536) tal como Catarina, ela também não proporcionou herdeiros do sexo masculino, dando à luz somente a uma menina, Elizabeth.
Elizabeth I.
E por isso, ela acabou acusada de incesto com seu próprio irmão, alta traição, bruxaria e adultério com múltiplos homens, sendo condenada a morte por decapitação, em 19 de maio de 1536, feito este inédito. Ana Bolena foi a primeira rainha inglesa a ser executada na história do Reino Unido.
A ascensão e queda de Ana, inspiraram e inspiram numerosos filmes, séries, documentários, biografias e obras ficcionais. Listei quatro séries que retratam a vida dessa emblemática monarca.
The Tudors.
A primeira série da lista, sendo a mais conhecida entre os fãs de dramas históricos, é a série The Tudors. (2007 – 2010) Na série, de quatro temporadas, que se passa na Inglaterra do Século XVII, acompanhamos os triunfos, as derrotas e os amores do Rei mais polêmico do Reino Unido, até a sua morte.
O que vemos nessas temporadas iniciais, é um Henrique VIII, como nunca visto antes: bonito, apaixonado e mais sensual. Com avidez pelo poder e desejo pelo amor, o jovem monarca de temperamento bem esquentado, governa seu reino como vive sua vida: totalmente sem limites e sem responsabilidades.
Henrique é casado há mais de vinte anos com Catarina de Aragão, rainha de origem espanhola e uma católica convicta, adorada pela população inglesa, que sofre por não conseguir dar há luz a um herdeiro masculino o que garantiria a estabilidade do reino. Além disso, a mesma tem que suportar conviver na corte com as muitas amantes que o rei não faz questão de esconder.
Para ela isso é normal e passageiro, até que uma mulher mais jovem, extremamente ambiciosa, bonita e sensual atrai a atenção de Henrique. Ana Bolena, seria a mulher responsável por sua ruína. Henrique se apaixona por Ana e fará de tudo para se casar com sua amada e ela fará de tudo par ser a próxima rainha Inglaterra e gerar o tão esperado filho que nação e Henrique tanto esperam.
Natalie Dormer (Ana Bolena) Johnathan Rhys (Henrique VIII ) Maria Doyle (Catarina de Aragão)
Mas o caminho não será fácil e o reinado de Henrique será cheio de traições, intrigas, lutas pelo poder, mortes e revoluções, que mudaram a Inglaterra e o mundo para sempre!
Minha opinião sobre a série.
Agora vamos as minhas opiniões e ressalvas em relação à série. Apesar de o personagem principal da série ser Henrique VIII, interpretado por Johnathan Rhys Meyers, o drama nos dá a oportunidade de conhecer suas seis esposas, dentre elas Ana Bolena, interpretada por Natalie Dormer.
Johnathan Rhys Meyers e Natalie Dormer.
A série nos apresenta uma Ana, extremamente sensual e com pouco senso político e religioso, principalmente na primeira temporada. Isso fica bem claro já nos posteris de divulgação da série. Um estereótipo de femme fatale, infelizmente, ainda usado na dramaturgia, principalmente quando falamos de Ana Bolena.
A série optou por retratar uma Ana, com base em fontes históricas tradicionais, que muitas vezes trazem uma visão machista e misógina. Que descrevem Ana Bolena como uma sedutora, faminta de poder, uma mulher com temperamento sempre explosivo, apaixonada pelo rei que faz um derradeiro sacrifício por amor em escolher romper com Roma para poder se casar com ela. O que é um erro!
Natalie Dormer
Ana não era considerada uma mulher bonita, mas sim uma mulher inteligente, sofisticada, carismática, politicamente ativa, uma religiosa convicta com a reforma protestante na Inglaterra. E foram essas qualidades que chamaram a atenção de Henrique.
Uma pintura do início do século XX, retratando Ana Bolena em uma caçada com o Rei Henrique VIII.
Para ficar mais didático, farei agora uma comparação entre as fontes convencionais históricas, usadas na série, com fontes mais modernas que trazem uma visão mais feminista sobre Ana Bolena, apontando as problemáticas e os benefícios que isso traz.
A Historiadora e escritora Hayley Nolan, em seu livro "Anne Boleyn: 500 Years of Lies", traz uma visão renovada sobre Ana Bolena, e relata que o rei havia feito investigações em segredo sobre se divorciar de Catarina de Aragão anos antes de Bolena aparecer em cena. Na série isso meio que é romantizado nós fazendo pensar que Henrique se divorciou de sua primeira esposa por que estava apaixonado por Ana.
Hayley Nolan e a capa de seu livro: Ana Bolena: 500 anos de mentiras.
Outro ponto que ela destaca é que Bolena resistiu aos avanços do rei, fugindo da corte real por um ano. Na série, esse acontecimento é retratado de uma forma distorcida, fazendo parecer que Ana usa isto como chantagem sexual, uma tática calculada para manipular o rei. Nolan nos diz que: “Há historiadores que chamam o assédio de Henrique de cartas de amor e afirmam que ele sentenciou a rainha que ele amava à morte".
Ela continua dizendo "que a maneira em que um homem mata uma mulher não prova seu amor por ela. Se terminou em decapitação, nunca foi amor", e ainda, Henrique VIII, já estava envolvido com sua amante, Jayne Seymour, casando-se com ela 15 dias após a execução de Ana Bolena, completa ela. E é exatamente como acontece na série, uma romantização dos fatos que retrata uma obsessão em amor! Pelos menos foi a minha percepção quando assisti.
Nolan, continua dizendo que “Muitos historiadores suspeitam que as acusações de adultério, incesto e alta traição, incluindo a acusação de que ela planejava matar o rei para poder fugir com um amante, eram no mínimo exageradas e na pior das hipóteses totalmente fabricadas por Thomas Cromwell, um conselheiro de Henrique que estava numa luta de poder com a rainha; a historiadora argumenta que a falta de privacidade da rainha e suas crenças religiosas profundamente enraizadas que condenam o adultério, fariam com que ficasse difícil que ela fosse infiel ao rei, ainda mais com vários homens.
Pelo menos essa parte da história de Ana, é retratada na série com um pouco mais de realismo, menos romantizado, mostrando toda a teia de traições e mentiras feitas para derrubar Ana Bolena.
Ana Bolena na Torre por Édouard Cibot (1799–1877).
A historiadora relembra que dois meses antes de sua execução, Bolena estava envolvida na aprovação de uma lei nacional intitulada a "Lei do Pobre", que declarava que oficiais locais deveriam encontrar empregos para os desempregados.
A lei implicava criar um novo conselho de governo o que ameaçava o poder de Cromwell. Esse lado mais politizado de Ana não é retratado de forma mais aprofundada na série, aliás em nenhuma das séries da minha lista. Eu só descobri esse projeto de lei envolvendo Ana pesquisando sobre a vida dela, e novamente nenhuma série se deu ao trabalho de mencionar essa lei revolucionária para época.
Como podemos ver, essa interpretação histórica tradicional sobre Ana Bolena, escritas por homens são problemáticas e obscureceram parte da história dela. Para Nolan, eles trazem a perspectiva de que as mulheres só conquistam poder por razões egoístas e frívolas, enviando uma mensagem negativa e perigosa para a nova geração.
Natalie Dormer, a atriz que interpretou Ana Bolena, foi uma das pessoas que mais estudou e se esforçou para que sua personagem fosse retratada da melhor forma possível. Em entrevista feita durante as filmagens da série, ela conta que estava animada com a perspectiva de incorporá-la com a maior precisão possível. “Eu não quero interpretá-la como uma femme fatale, ela era uma evangélica genuína com uma real crença religiosa na Reforma".
Infelizmente, como vimos, a série seguiu com uma Ana diferente do que atriz, queria e imaginou.
Ela continua dizendo que:
"Os homens ainda têm dificuldade para reconhecer que uma mulher pode ser complexa, pode ter ambição, boa aparência, sexualidade, erudição e bom senso. Uma mulher pode ter todas essas facetas, e ainda os homens, na literatura e no teatro, parecem sentir a necessidade de simplificar as mulheres, a polarizá-las como prostitutas ou anjos".
Na época, a série recebeu muitas críticas dizendo que Ana era retratada como uma ‘cadela manipuladora e calculista’, críticas que magoaram muito Natalie. Durante um jantar com Hirst, escritor da série, que ainda estava escrevendo a segunda temporada, a atriz compartilhou com ele a sua frustração e pediu-lhe para ‘escrever direito na segunda temporada’. Hirst a levou a sério, e o resultado foi uma grande mudança na Ana Bolena da segunda temporada.
Ana continua sedutora na segunda temporada mais ela é retrata como uma mulher inteligente, politicamente astuta e correta, uma mãe amorosa e uma reformista comprometida. Cenas foram adicionadas, mostrando Ana instruindo suas damas de companhia a usaram a Bíblia em inglês em vez da Bíblia em latim, como os católicos faziam. Outra cena mostra Ana brigando com Cromwell sobre o mau uso do dinheiro dos mosteiros.
Cena icônica!
Ana teve um final trágico e a cena de execução da Rainha na série, foi especialmente importante para Natalie e para mim, pois resgatou a dignidade de Ana Bolena, tanto estereotipada na série. Chorei e sofri muito assistindo a está cena, a atriz fez um trabalho fenomenal!
Cena de execução de Ana Bolena - The Tudors.
Hoje, centenas de fansites são dedicados a Natalie Dormer, que conseguiu, apesar de toda a problemática em torno da construção da personagem, criar uma Ana Bolena que é vista por milhares de mulheres jovens como uma mulher de muitas faces.
Violência contra às mulheres.
Além do problema na construção da personagem de Ana Bolena, a série retrata todas as esposas de Henrique VIII, de forma estereotipada e cheias de preconceitos de gênero. Outro ponto negativo é que a série mostra de forma desnecessária e excessiva, muitas cenas sexo e nudez, bem como as cenas de violência explicita contra às mulheres. Uma cena de estupro me chocou muito! Um assunto tão delicado foi retratado de uma forma muito explicita, extremamente violenta e insensível, tal como em "Game of Thrones".
Por essas razões a série “The Tudors” seja uma das adaptações que eu menos goste sobre a Dinastia.
O lado positivo da série é que ela foi a única que retratou uma boa parte do período Tudor e foi um dos meus primeiros contados com a história de Ana Bolena. A série entrega figurinos e cenários lindíssimos e atuações memoráveis como a da atriz Maria Doyle kennedy, que faz a Rainha Catarina de Aragão.
Em geral, a série fez muito sucesso e a maioria das avaliações são positivas. A lista de nomeações e premiações é extensa.
Vencedor para Melhor Cinematografia em Séries de Televisão do Canadian Society of Cinematographers Awards de 2009;
Vencedor de várias categorias do Irish Film and Television Awards de 2009;
Vencedor para melhor edição de imagem do Annual Gemini Awards de 2009;
A nossa segunda série da lista, que é, na verdade, uma minissérie, é a “Wolf Hall” de 2015.
Essa minissérie de seis episódios, produzida pela BBC, é baseada nos dois primeiros livros da premiada trilogia de romance histórico da escritora e historiadora, Hilary Mantel.
O enredo da série e dos livros conta a história do período Tudor, do ponto de vista de um plebeu, Thomas Cromwell, filho de ferreiro que acabou se transformando em um dos homens mais poderosos da Inglaterra do século XVI e braço direito do rei Henrique VIII. A minissérie retrata ainda, como ele, conseguiu derrubar Ana Bolena, a mulher mais poderosa da Inglaterra.
Mark Rylance como Thomas Cromwell.
Como a série “The Tudor”, não temos Ana Bolena como personagem principal. A trama foca na história de Thomas Cromwell como já mencionado, mas podemos ver outra versão de Ana. Claire Foy, a Rainha Elizabeth II de “The Crow”, interpreta rainha.
Essa atriz gosta de um papel de realeza hein!
Claire Foy como Ana Bolena.
Diferente da hipersexualizada Ana Bolena de “The Tudors”, “Wolf Hall”, traz uma Ana Bolena menos sedutora, mais impulsiva e muito nervosa. Entendo que a corte real de Henrique VIII era um ambiente hostil e perigoso, principalmente para mulheres de personalidade forte como a de Ana e que a mesma vivia em constante pressão para dar um herdeiro ao rei. Mas retratar uma Ana que está sempre a flor da pele, beirando quase a histeria só reforça o estereótipo de que mulheres agem sempre com emoção e não com a razão.
Thomas Cromwell (Mark Rylance) e Ana Boelna (Claire Foy).
Ana era uma mulher que falava o que pensava e muitas vezes agia realmente impulsivamente e na situação dela quem não ficaria nervosa. Ana era humana como todos nós, ela sentia raiva, amor, alegria, tristeza, era ambiciosa mas também extremamente generosa.
Somos seres imperfeitos cheios de falhas como Ana, a diferença é que ela era uma mulher politicamente ativa e que precisava ser duplamente cautelosa, pois seus erros poderiam ser facilmente associados a uma suposta fraqueza do sexo, como, por exemplo, uma mulher descontrolada, como justamente retratado na série.
Como em “The Tudors” temos a cena de execução de Ana que também é igualmente emocionante e sempre muito forte, pelos menos para mim, que tenho a esperança que o destino de Ana Bolena seja diferente ao menos na ficção. A atriz é fenomenal demostrando todo o medo e a coragem de Ana ao enfrentar a morte.
Cena de execução de Ana Bolena - Wolf Hall.
Wolf Hall tem uma produção belíssima, ambientes magníficos, figurinos impecáveis, e atores excelentes! A minissérie levou prêmio Bafta de melhor série dramática e de melhor ator para Mark Rylance, que interpreta o político Thomas Cromwell.
Ana Bolena.
A nossa terceira série da lista sobre Ana Bolena, atendeu finalmente há alguns dos meus pedidos e fiquei muito surpresa e feliz com isso. O nome da série já indica que Ana dessa vez é a protagonista. O pôster de divulgação, mostra uma Ana Bolena exalando confiança e poder.
Jodie Turner-Smith como Ana Bolena.
Na minissérie de apenas três episódios, temos finalmente uma visão feminina dos fatos históricos, o da própria Ana Bolena. Na trama, acompanhamos a trajetória da rainha durante seus últimos cinco meses de vida e vemos uma Ana muito mais complexa e de muitas personalidades. A minissérie se propôs a re-imaginar a história de vida de uma mulher que muitos odeiam, mas pouco conhecem de uma forma mais humanizada.
E a responsabilidade de trazer essa Ana renovada foi a da atriz Jodie Turner-Smith, que fez um papel maravilhoso e importantíssimo, quebrando a tradição de Anas estereotipadas. A série apresenta toda a complexidade por trás da vida e da própria Bolena, retratando-a com uma mulher sagaz, maldosa, manipuladora, ambiciosa e destemida atributos necessários a sua sobrevivência na corte, mas também amorosa, gentil e astuta. Ela sente medo, raiva, orgulho, ou seja, uma mulher de muitas faces e sentimentos!
A trama, mostra também uma Ana enfrentando com determinação e dignidade, a sociedade patriarcal da época. Nem preciso falar que essa é a versão da Ana Bolena que eu mais gostei! Ana foi representada da forma que deveria ser e sobre a perspectiva mais apropriada, a dela!
Ana Bolena negra.
A questão que provocou muita discussão sobre a série, tanto na imprensa como nas redes sociais, na época, foi à escolha de Jodie Turner-Smith — uma atriz negra — para interpretar a caucasiana Ana Bolena. Foi a primeira vez que a monarca foi interpretada por uma atriz que não era branca.
Num comunicado, o canal Channel 5, responsável pela produção da série, afirmou que escolher o elenco dessa forma “abre espaço para atores e artistas terem a oportunidade de trazer as suas identidades ou parte delas para uma personagem. Atores de origens minoritárias que são raramente representados na TV, podem assim reivindicar partes das suas identidades pessoais, sem serem limitados por elas.
Jodie Turner-Smith (Ana Bolen) e Paapa Essiedu (Jorge Bolena).
Em conversa com o The New York Times, a atriz principal, Jodie Turner-Smith, comentou que: “enquanto mulher negra, eu consigo entender o que é ser marginalizada. Tenho experiência de vida do que é ser marginalizada e sentir-me limitada”. Pensei que seria interessante trazer a frescura de uma pessoa negra para contar essa história”, acrescentou a atriz.
Na mesma entrevista, a atriz estabeleceu um paralelismo entre a história de Ana Bolena e como, na atualidade, Meghan Markle foi tratada pela família real. Na conversa que Meghan e Harry tiveram com Oprah Winfrey, a duquesa de Sussex afirmou que chegou a ter pensamentos suicidas pela forma como era tratada na casa real britânica. Ela acrescenta que isso “Mostra como não mudamos assim tanto no contexto da monarquia relativamente à questão de alguém ser de fora e diferente…”
Ela conclui que:
“Há muito pouco espaço para alguém com a minha cor de pele abordar a monarquia. E a arte é suposto desafiar. O principal objetivo de fazer as coisas desta forma foi a de mostrar uma perspetiva diferente”.
Minhas considerações há respeito disso é que, primeiro, a etnia não é um tema relevante no enredo da série, segundo Ana Bolena era, vibrante, inteligente, sagaz e a atriz na minha opinião preencheu todos esses requisitos. Terceiro, a história de Ana já foi contada inúmeras vezes sendo retrata quase sempre como uma jovem de princípios morais duvidosos que seduziu o rei e o levou a deixar a mulher e a sua igreja. Foi o que ocorreu nas primeiras séries que mencionei. Já estava na hora de uma série ter a coragem e o bom senso de retratá-la como ela realmente foi e não por meio de estereótipos.
Série sexo, sangue e realeza.
A nossa última minissérie da lista, mistura elementos de Bridgerton e documentários sobre realeza, e é uma pequena pérola no catálogo da Netflix para quem é fã de histórias de época. A série chegou de surpresa sem grande alarde ou campanhas massivas de marketing e me pegou totalmente de surpresa, pois séries sobre a monarquia inglesa geralmente chegam chegando!
Na trama, de apenas três episódios, acompanhamos a ascensão e queda da rainha consorte Ana Bolena. A produção escrita por Francesca Forristal tem o mérito de possuir uma dramatização das cenas intercaladas com entrevistas com historiadores especializados na história de Ana Bolena, apresentando todo o contexto social da época de forma didática.
A diferença, que chamou minha atenção para a minissérie, é queda da quarta parede feita por Ana Bolena, que dá um toque mais moderno para o drama, juntando músicas pops atuais que embala jantares e bailes reais. Além disso, a minissérie opta por trazer uma estética e uma linguagem mais jovem, não trazendo muitos termos técnicos e mais formais o que típico de documentários mais tradicionais. Isso foi um acerto, pois consegue atrair um público de todas as idades. A ambientação e figurinos são belíssimos de se ver.
As atuações são todas ótimas, com destaque na química entre o casal principal, interpretados por Amy James-Kelly, como Ana Bolena e Max Parker como Henrique VIII. No entanto, farei uma ressalva, na vida real, empregando termos atuais, o relacionamento deles foi muito abusivo como demonstrado ao longo do texto. Na série, há uma suave romantização por parte dos historiadores nessa parte da história dos dois. Então atenção!
Amy James-Kelly, como Ana Bolena e Max Parker como Henrique VIII.
Bom, a série é perfeita para quem curte um drama de época e para quem gosta de assistir a conteúdos curtos e rápidos e certamente será um passatempo prazeroso, como foi para mim.
CONCLUSÃO.
Ana Bolena foi uma soberana que ultrapassou seu papel de esposa do monarca reinante para adentrar no campo de atuação política, por isso foi malvista e encarada pela sociedade patriarcal da época, como uma abominação, dando assim margem a todo tipo de acusação. Ela não deu a Henrique seu tão esperado herdeiro e por isso foi condenada a morte.
Por séculos Ana Bolena teve sua vida contada através de estereótipos e discursos misóginos. Seu resgate da escuridão se deu gradualmente, graças a nova geração de mulheres que buscaram e buscam saber das histórias de personagens históricas imperfeitas, com virtudes e vícios, sendo reescritas sob uma nova perspectiva, que valorize suas atitudes enquanto mulheres que estiveram em situação de poder.
Ana Bolena.
Por isso é tão importante que a dramaturgia apresente ao público uma análise da vida de Ana Bolena sob a luz das recentes pesquisas desenvolvidas na área da História das Mulheres, contribuindo para a desconstrução de estereótipos que mancharam sua história através dos séculos e não reforçá-los.
E não dá para deixar de notar a ironia do destino: tanta comoção, mortes, crises políticas e religiosas, para que Henrique pudesse deixar um filho e foi a filha de Ana Bolena que herdaria o trono e asseguraria a dinastia Tudor no poder por décadas.
Elizabeth I.
Elizabeth I, se tornou uma das mais poderosas rainhas que a Inglaterra já teve. Através dos olhos dela vemos os sonhos de Ana Bolena sendo realizados.
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Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:
Trabalho : RAINHAS NA INTERNET: A DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS E SUA ABORDAGEM JUNTO AO PÚBLICO DO BLOG “RAINHAS TRÁGICAS” Prof. Me. Renato Drummond Tapioca Neto Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
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