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Filmes e uma série (com ressalva), sobre a rainha Elizabeth I.

Atualizado: 18 de ago. de 2023

Existem mais de cinquenta obras, na dramaturgia, sobre a rainha Elizabeth I, mas foi somente no ano de 1998, com o filme “Elizabeth”, que o público realmente prestou atenção em uma das rainhas mais importantes — e populares — da história da Inglaterra. Citarei três obras que assiste, que retratam, em períodos diferentes, a vida dessa monarca inglesa.




Elizabeth I, como já mencionado, foi uma poderosa e importante rainha da Inglaterra, porém apesar de ser famosa, poucas vezes o passado da rainha foi representado no audiovisual principalmente sua infância e adolescência. A partir da vontade mergulhar mais no passado da popular rainha, a plataforma de streaming, StarsPlay, apresentou o seriado “Becomeng Elizabeth”, em tradução literal seria “Tornando-se Elizabeth”, ou seja, o seriado trata do amadurecimento de uma jovem menina para o papel de grande líder.


Cartaz de Divulgação do seriado: “Becomeng Elizabeth”.


A série começa com a morte do Rei Henrique VIII, em 1547, Sir Thomas (Jonh Hefferman) e seu irmão o Duque de Somerset (Tom Cullen), saem em uma viagem para buscar seu sobrinho e único filho de Henrique VIII, Edward, de apenas dez anos, o primeiro na linha de sucessão ao trono inglês.


Seriado: “Becomeng Elizabeth”.

Coroado como novo rei da Inglaterra, Edward VI (Oliver Zetterström), se muda para corte com suas irmãs mais velhas Mary (Romola Garai) e Elizabeth (Alicia von Rittberg). Dentre traições luxúrias cobiça e muitos segredos, o Reinado de Edward, será marcado por uma forte perseguição aos devotos da religião católica, incluindo sua própria irmã Mary, considerada uma católica fervorosa e no meio disso tudo Elizabeth, que mais tarde se tornaria uma das rainhas mais poderosas da coroa britânica, visa entender como funciona política a diplomacia dos homens e sua nova dinâmica familiar.


Seriado: “Becomeng Elizabeth”.


Apesar de a série ter a intenção de mostrar a transformação de Elizabeth em uma líder e como isso tudo aconteceu, a criadora da série, Anya Reiss, faz isso de uma forma irresponsável e distorcida, o que me deixou furiosa e extremamente decepcionada, porque estava muito empolgada com a chegada dessa série.


Anya Reiss.


🚨 Atenção! O que falarei agora pode ser um gatilho para as pessoas vítimas de violência sexual. Estou ciente que uma série histórica não tem nenhum dever de seguir a risca fatos históricos como se fosse um documentário, mas fiquei perturbada com a escolha que fizeram na série, em erotizar, romantizar e tornar consensual o abuso que a Princesa Elizabeth sofreu nas mãos de seu tio, Thomas Symoeur, quando testemunhos e testemunhas da época apontarem claramente comportamentos inapropriados e nojentos de um homem numa posição de confiança e poder, em relação a uma jovem de apenas quatorze anos.


Elizabeth I e Thomas Symoeur.


Em 1548, quando abuso aconteceu, Elizabeth tinha apenas quatorze anos e Thomas Symoeur, tinha cerca de quarenta anos. Ele era marido de sua madrasta, Catarina Parr. Thomas era responsável pela casa exercendo uma posição de confiança e poder, ele deveria ter sido uma figura paterna para Elizabeth, uma menina que havia acabado de perder seu pai. Em vez disso Thomas a perseguia constantemente pela casa tentando a beijar a força, apalpando suas nádegas.


Ele entrava nos aposentos de Elizabeth, bem cedo para vê-la somente de camisola enquanto o mesmo só usava uma camisola sem nada por baixo. A princesa em uma tentativa de fugir do assédio, acordava mais cedo e se vestia para que Thomas não há visse somente de camisola. Elizabeth, se escondia, com a ajuda dos empregados, atrás das cortinas toda vez que Thomas se aproximava de algum cômodo da casa, onde ela estava. Uma situação aterrorizante para qualquer menina.


Na série esses acontecimentos pavorosos são romantizados, Elizabeth troca beijos ardentes e apaixonados com Thomas. As visitas em seu quarto soam como se fossem consensuais e muitas vezes com um tom erótico. As cenas passam para o telespectador, uma história de um casal apaixonado, fazendo com que o público esqueça por muitas vezes que ela é uma adolescente e ele um adulto.


Seriado: “Becomeng Elizabeth”.


No século XVI, época em que Elizabeth e Thomas viveram, temas como sexo relacionados com a idade e crimes como abuso, eram diferentes de hoje, mas os fatos ocorridos envolvendo os dois, foram considerados um escândalo na época.


Catherine Ashley, dama de companhia de Elizabeth, repreendeu Thomas Seymour pelo seu comportamento inapropriado, relatando isso a Catharine Parr (Jessica Raine). Infelizmente, o comportamento da madrasta de Elizabeth não foi muito diferente do que acontece hoje em dia. Catharine Parr, acabou mandando Elizabeth embora de casa, não o marido.


Catharine Parr /Jessica Raine.


A princesa sofreu muito com a atitude de sua madrasta, tendo enxaquecas e problemas digestivos e ataques de ansiedade, conforme relatos médicos do período. Ela foi separada da mulher que ela via como uma figura materna, uma mulher que ela amava e que foi abusada pelo seu marido. E esses fatos não aparecem na série. Só quem passou por uma situação como essa sabe o quanto isso é traumatizante.


A série romantizou o abuso, minimizando suas consequências. Essa história não é fictícia, Elizabeth existiu, o abuso foi real. A série jogou o movimento “Me To” o no lixo, desrespeitando mulheres do mundo inteiro, vítimas de assédio é abuso sexual, ao retratar o predador como um galã e o abuso em um romance.


Seriado: “Becomeng Elizabeth”.


Um levantamento feito pela (Unicef), entre os anos de 2017 e 2022, mostrou que o Brasil registrou 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos — uma média de quase 45 mil casos por ano. Segundo, pesquisa do Datafolha, apontou que no Brasil, mais de 26 milhões de mulheres foram vítimas de assédio somente no ano de 2021.



A série desperdiçou a oportunidade de educar e mostrar de uma forma responsável e sensível um dos eventos mais importantes e traumáticos da vida de Elizabeth. Acontecimentos estes que moldaram comportamento da princesa para sempre e que continuam a acontecer com milhões de meninas até hoje.


Fica o aviso, para aqueles que gostam de história, tomarem bastante cuidado ao assistir a dramas históricas, pois na maioria das vezes, a indústria cinematográfica, distorce eventos importantes e delicados, os romantizando. Como foi o caso dessa série. Minha experiência em assistir lá foi decepcionante e enfurecedor. E que felizmente não foi o caso do filme “Elizabeth”, de 1998.


Cartaz do filme: Eizabeth.


O enredo se passa na Inglaterra de 1554, Elizabeth (Cate Blanchett), agora com 25 anos, é uma jovem adulta e vive uma vida sem preocupações, no interior, ficando longe dos acontecimentos turbulentos que ocorrem no país. A Inglaterra está dividida entre católicos e protestantes. Mary Tudor (Kathy Burke) está no poder, e é uma rainha católica fervorosa que comanda intolerantemente o protestantismo, queimando milhares nas fogueiras da inquisição. Todavia, seu reino sangrento está no fim.


Filme: Elizabeth.


A rainha católica tem um tumor que a deixa com os dias contados. Sua meia-irmã, Elizabeth, é uma protestante convicta e a primeira na linha de sucessão. Elizabeth é levada até a rainha, que tenta fazê-la prometer que o país seguirá o catolicismo. Mas, apesar de poder morrer, Elizabeth diz que será fiel sua consciência. Já no leito de morte de Mary Tudor, o Duque de Norfolk tenta fazer com que a rainha assine a pena de morte de Elizabeth, mas não obtêm êxito e com a morte de Mary, Elizabeth é coroada rainha da Inglaterra.


Filme: Elizabeth.


Entretanto, Elizabeth herda um país falido, sem exército e com inimigos por todos os lados, até mesmo na sua própria corte, que a pressiona a casar-se e gerar um herdeiro que lhe asseguraria o trono inglês e a confiança do povo. Pois acreditavam que uma mulher sozinha não podia governar.


Filme: Elizabeth.


Elizabeth, usando de sua formidável inteligência, calcula cada passo para permanecer no poder e evitar uma guerra civil no seu país e em consequência disso manter a sua cabeça no pescoço. Tendo ainda que conciliar tudo isso com um romance proibido.


Filme: Elizabeth.


O Cinema é uma ótima forma de ensinar e aprender História. E esse filme, diferente da série, é ótimo para apresentar a história de Elizabeth I, respeitando e não romantizando sua trajetória rumo ao poder, e isso sem se tornar cansativo, o que é típico de tramas históricos. A atriz, Cate Blanchett, mostrou seu talento extraordinário, ao impetrar a jovem rainha.


Inicialmente, vemos a jovem rainha desfrutando o lado bom da coroa, com festas, banquetes e muitas regalias reais, e o clima de romance com o seu favorito. Apesar de sua inteligência e de sua noção do perigo que acerca, ela lida de uma forma imatura e não se impõe em frente ao jogo político extremamente perigoso que acerca. E este é um dos motivos que o filme se torna atrativo, na minha opinião. Geralmente a Rainha Elizabeth I, é retrata na dramaturgia somente em seus momentos de glória, já com o seu poder consolidado como soberana.


Elizabeth I.


Mas não é comum mostrar sua ascensão ao trono e sua luta, entre erros e acertos, para manter a coroa. E é aí que conferimos a interpretação brilhante da atriz, que humaniza a monarca mostrando a inexperiência, o medo e a imaturidade da rainha. Não é à toa que a atriz recebeu sua primeira indicação ao Oscar por sua atuação, ganhando o globo de ouro pelo papel.


Filme: Elizabeth.


O filme é impecável quanto ao seu figurino e fotografia. Algumas cenas parecem obras de arte. O filme de 1998, envelheceu bem sendo considerado pela crítica especializada como um dos maiores épicos já feitos sobre a vida da monarca. Super recomendo!


Imagens do filme: Elizabeth .


Outra obra do cinema, muito comentado, sobre a vida da rainha inglesa, é o filme “Elizabeth — A Era de Ouro”, de 2008, sendo uma continuação de “Elizabeth”. Apesar de possuir um subtítulo positivo, trata, na realidade, de um dos momentos mais turbulentos do reinado de Elizabeth.


Cartaz do filme “Elizabeth — A Era de Ouro”.


Estamos em 1585. Vemos uma Elizabeth, mais madura e muito mais poderosa. A Espanha, do rei Felipe II, possui o grande plano de se tornar a maior potência mundial. De maioria católica, o reinado espanhol inicia uma Guerra Cristã pela Europa e transforma os ingleses (na sua maioria protestantes) em seus maiores alvos — o objetivo principal deles é tirar Elizabeth do poder e colocar, em seu lugar, Mary Stuart da Escócia, uma seguidora da fé católica. Se não bastasse isso, a rainha, Elizabeth I, ainda tem que lidar com a própria turbulência interna do seu país.


Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”.


A população ainda não se acostumou com sua solteirice e espera que sua rainha mãe ofereça um herdeiro ao trono. Em meio disso tudo a rainha se aproxima de Sir Walter (Clive Owen), cujo estilo de vida livre e aventureiro a fascina.


Sir Walter (Clive Owen) - Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”


Vamos a minha opinião sobre o filme. De volta ao papel de Elizabeth I, Cate Blanchett prova mais uma vez porque merece estar no topo da lista de melhores atrizes de Hollywood. Tanto que concorreu ao Oscar como melhor atriz por este filme. Os nove anos entre os dois filmes lhe deram mais do que apenas novas linhas em seu rosto. Tanto a atriz quanto a personagem estão mais experientes e maduras, refletindo positivamente em sua atuação.


Elizabeth I (Cate Blanchett) - Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”


Em, Elizabeth: A Era de Ouro, vemos a rainha confirmando a abdicação de sua vida pessoal em detrimento do comando de seu país, lutando contra várias questões de uma única vez, as críticas quanto à falta de um herdeiro vindo dela; a negação de mais um amor; intrigas que pretendem destituí-la de seu trono e o ataque armado que a Espanha promove contra a Inglaterra, em nome de diferenças religiosas.


Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”.


Cate consegue, mas uma vez, brilhantemente, equilibrar muito bem todas essas questões complexas existentes em uma única mulher, com uma interpretação que novamente humaniza a monarca, demonstrando sua força e fragilidade ao mesmo tempo. Uma pena não ter levado o Oscar por esse papel! Outra personagem importante é a vivida por Samantha Morton, Mary, rainha da Escócia e prima de Elizabeth I.


Mary Stuart (Samantha Morton) - Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”


Representando uma das ameaças à rainha Elizabeth com suas tentativas de assassiná-la para roubar seu trono, Mary é uma peça chave na história e a atriz consegue passar toda a determinação e loucura da personagem para o público. Vemos neste longa-metragem, toda qualidade técnica que vemos no primeiro filme, belos planos e figurinos impecáveis.


A sequência na qual Elizabeth aparece diante de suas tropas, antes da guerra contra a Espanha, com cabelos soltos e vestindo uma armadura resplandecente tem grande efeito, digno de uma guerreira disposta a lutar ao lado de seu povo.


Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”.


Infelizmente, o filme deixou a desejar em seu roteiro e direção, ficando muito longe do rico drama do longa de 1998. A disputa bélica com a Espanha é mostrada, sem emoção ou a adrenalina.


E o romance entre Elizabeth e Sir Walter, não me agradou muito. Pois passou para o público, que não conhece a biografia da rainha, que ela está mais preocupada em sua relação amorosa com o pirata, Sir Walter (Clive Owen), do que com uma guerra iminente, ou com a conspiração católica para mata lá. Não há um equilíbrio entre essas questões como vemos no primeiro filme.


Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”


É preciso ressaltar que a produção não é uma aula de história, o que não é incomum em tramas desse tipo. Mas o que me chamou atenção foi a quantidade de exagero por parte do diretor em camuflar os acontecimentos históricos distorcidos no filme propositalmente para a trama ficar mais agradável aos olhos do grande público. Por isso, na minha opinião, Elizabeth: A Era de Ouro, resulta numa obra superficial, apesar de tanta complexidade à sua volta. Deixando de lado todo o drama contido no difícil caminho da rainha protestante.


Filme “Elizabeth — A Era de Ouro”.


Enfim, não é tão bom quanto o primeiro filme, mas ainda, sim, é um drama de época com um excelente elenco e muitos valores de produção.


Bom é isso. Assistam estas obras e comentem aqui no blog o que acharam delas.



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