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Hipátia, primeira mulher matemática da história!

Atualizado: 9 de set. de 2023



Em um mundo dominado por homens, ela foi uma das poucas mulheres que conseguiu competir em pé de igualdade com homens, deixando sua marca no mundo como a primeira mulher matemática do mundo. O trabalho de sua vida foi se dedicar a buscar pelo conhecimento. Porém, ela vivia em uma época conturbada da história, pois o mundo antigo que ela conhecia estava em declínio e colidindo com uma nova era da história.


ALEXANDRIA .


Para contar a história de Hipátia é preciso primeiramente contar a história da cidade em que ela vivia, Alexandria. Em 332 a.C., o Egito estava sob domínio persa. Nesse mesmo ano, Alexandre, o "Grande", vence a guerra contra o rei persa, Dario III, e entra triunfante no Egito. Os Egípcios acolhem Alexandre com entusiasmo. Viam nele mais do que um conquistador, um libertador que aparecia para pôr fim ao duríssimo governo antecessor.



Alexandre tinha a "mente aberta", digamos assim, e isso o tornava diferente dos muitos conquistadores que passaram pela história. Ele respeitou a cultura da civilização egípcia, ganhando o amor dos nativos e sendo consequentemente declarado Faraó, um deus vivo na terra. Alexandre, inspirado na grandiosidade dos monumentos egípcios, como as pirâmides, decidiu construir uma cidade que solidificaria seu reinado divino, que levaria o seu nome, Alexandria.


Cidade de Alexandria sendo fundada.


Era costume egípcio construir uma cidade próximo ao rio Nilo. Alexandre quebrou essa tradição e ordenou que a construção de sua cidade fosse realizada perto da costa. A razão disso é que a cidade ficaria de frente a sua cidade natal, Grécia e também a Macedônia. Alexandre tinha o plano ambicioso de fundar não só uma cidade sumptuosa, núcleo do seu poder, mas também de transforma-la em centro mundial da cultura e do conhecimento.


Por ter um comércio muito rico e uma rota, tanto marítima e terrestre, muita extensa, a entrada e a saída de produtos era contínua, sendo assim a movimentação de estrangeiros e culturas diversas era muito frequente no local. Por isso a população de Alexandria era um verdadeiro “mosaico cultural”, já que diferentes povos trouxeram para a cidadeculturas, religiões, línguas e valores diversos e viviam com uma certa harmonia.


A maioria das pessoas lembra de Alexandre como um grande general, mas ele também sábia da importância da educação e o poder do conhecimento. Esse tipo de pensamento foi ensinado para ele por ninguém menos que o grande filósofo Aristóteles, ensinado por Platão, sendo este ensinado por outro brilhante filósofo, Sócrates. Eles ensinavam e defendiam fortemente o pensamento crítico e independente, devendo se questionar tudo a sua volta.



Alexandre morreu em 323 a.C., antes de ver concluída a obra. O seu reino foi dividido e o Egito ficou com o seu mais confiável general, Ptolomeu, que continuou o seu ambicioso plano. Em seu governo investiu-se pesado nesse setor, construindo escolas que ensinavam sobre ciência, medicina, astronomia e física. O primeiro centro de pesquisa do mundo e a mais completa biblioteca que o mundo já conheceu foram construídos em Alexandria, instituições que adquiriram grande renome na Antiguidade.



A cidade tentou reunir nessas instituições todo o conhecimento do mundo habitado. Com a cópia, revisão e editoração da sabedoria mundial promovendo-se um rápido acúmulo de manuscritos de todo o Mediterrâneo. Era tão sério que qualquer viajante que chegasse a cidade sendo por terra ou mar, tivesse livros, eles eram confiscados e enviados aos escribas que copiavam os livros e os guardavam na biblioteca.


Tais atividades nunca haviam sido centralizadas em um único local e em tão grande escala, nem se havia concentrado tantos esforços para que fossem legados à posteridade. Dessa forma, Alexandria tornou esse conhecimento acessível a “acadêmicos” de várias regiões e, através disso, transformou-se num centro atrativo em todo o Mediterrâneo. Muitos acadêmicos se mudavam para Alexandria e usavam os livros da biblioteca e conduziam suas pesquisas, escrevendo suas próprias teses que eram copiados e adicionados a biblioteca e isso continuou por séculos, cominando em meio milhão a um milhão de livros.


Para se ter uma ideia dos grandes pensadores que viviam na época, está Eratóstenes que calculou de forma incrivelmente acurada a circunferência da terra, bem como Aristarco de Samos um astrônomo e matemático grego, sendo o primeiro cientista a propor que a Terra gira em torno do Sol (sistema heliocêntrico) 2 mil anos antes que Copernico fizesse.


Durante o governo de Cleópatra, a glória da grande biblioteca de Alexandria começou a decair. Em 46 a.C., Cleópatra estava em guerra civil com seu irmão Ptolomeu XIII e sua irmã Arsínoe IV, quando o general romano Júlio César chega ao Egito, elevando a guerra em aum outro patamar. Durante a disputa houve uma batalha naval. Júlio César ordenou que atirassem fogo contra os navios inimigos e infelizmente o fogo se alastrou para os navios, dos navios para o porto e do porto para a biblioteca de Alexandria. Milhares de livros originais foram perdidos nas chamas, mas alguns livros foram salvos e enviados a Serapeum, um templo dedicado ao deus Serápis.


Eventualmente o Egito foi conquistado por Roma, tendo o novo governo preservado e permitido o funcionamento do que restou da biblioteca. Mas com menos entusiasmo do que antes. O espirito do conhecimento se manteve através das escolas. Quatrocentos anos depois do ocorrido, Serapeum era o que havia restado da biblioteca original. No século XXI estamos acostumados com o acesso fácil as informações, porque está tudo armazenado eletronicamente, mas em uma biblioteca da antiguidade eles geralmente só tinham uma única cópia existente de um livro, então imaginem se isso fosse perdido, perderia-se aquele conhecimento para sempre.


Por isso a importância de sua proteção. Foi nesta cidade que exalava conhecimento e cultura, onde se estimulava o aprendizado, e que abrigava diferentes religiões, que Hipátia nasceu e cresceu.


Início.


Hipátia, nasceu em Alexandria, no Egito, por volta de 355 d.C. e era filha de Téon de Alexandria, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria. Criada em um ambiente de ideias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, um homem muito a frente de seu tempo, que transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido.


Cena do filme "Agora".


Hipátia estudou na Academia de Alexandria, onde mais tarde veio a se tornar diretora. Ela também se tornou professora e deu aulas de matemática, astronomia e filosofia, e isso tudo em um tempo em que as mulheres eram limitadas ao espaço doméstico. Muitos estudantes a admiravam e pessoas de todo o canto do império, chegaram a Alexandria para assistir uma de suas aulas e aprender com ela.


Cena do filme "Agora".


Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Muitos Matemáticos, escreviam-lhe procurando sua ajuda para solucionar questões que não conseguiam resolver. E ela raramente os desapontava. Ela era obcecada pelo processo de demonstração lógica e quando lhe perguntavam por que jamais se casara, respondia que já era casada com a verdade. É atribuído a ela o aperfeiçoamento do astrolábio, na astronomia, o instrumento era utilizado para determinar a altitude dos corpos celestes.

Contudo, ele também foi usado para determinar a hora, cálculo da altura de construções, profundidade de poços e auxílio nas navegações.



Hipátia vivia em uma época em que ainda se permitia questionar o mundo em sua volta, mas em futuro não muito distante isso iria mudar.


Paganismo x Cristianismo.



O cristianismo não era mais proibido e pela primeira vez era religião oficial dos imperadores romanos. Por todo o império tensões religiosas cresciam a cada dia nutridos por velhas feridas e em Alexandria não era diferente. Os pagãos eram ainda poderosos, mas já haviam percebido que sua influência começava a decair. A população cristã aumentava e seu ódio também, ao sofrerem durante séculos todo o tipo de violência e opressão religiosa cometidos pelos seus antigos mestres.


Confrontos entre cristãos e pagãos, aumentavam com frequência por toda a cidade. Mas esse tipo conflito não se restringia somente as ruas, mas se estendia dentro do mundo acadêmico. Hipátia não era cristã e também não necessariamente uma pagã Ela seguia o neoplatonismo, uma vertente filosófica que defendia e ensinava que em ordem de alcançar a união com o universo, era necessário desconsiderar as distrações do mundo e focar na meditação, estudar e basicamente apenas viver uma vida agradável.



Mas esse tipo de realidade e conhecimento era um privilégio para poucos. Nas ruas os conflitos se intensificavam, pois os pagãos estavam enfurecidos, pois suas estátuas sagradas foram vandalizadas e profanadas, acusando os cristãos por isso. Com isso os pagãos se armaram e atacaram seus inimigos, derramando sangue cristão por todo a cidade. Subestimando sua ferocidade e quantidade, os pagãos se viram encurralados pelos cristãos que estavam com sede de vingança pelo ocorrido.


Os pagãos se refugiaram em Serapum, tomando como reféns alguns cristãos. Soldados romanos foram enviados para conter a multidão. Os pagãos se encontravam agora sitiados pela multidão cristã. Esse empasse chegou aos ouvidos do imperador Cristão Teodósio, o que não acalmava a situação para os pagãos. O imperador já havia implementado medidas que proibiam cada vez mais as práticas pagãs. Por decreto, o imperador perdoava os pagãos envolvidos na revolta e poderiam sair com suas vidas de lá. Todavia, o mesmo permitiu a entrada dos cristãos no templo, ordenado indiretamente a destruição do local.


E nada impedindo a multidão, eles arrombaram os portões de Serapum. Mas, porque o imperador permitiu a destruição deste local. Bom, Primeiramente o templo foi construído para cultuar o deus Serápis e o Imperador começava a intensificar sua batalha contra o paganismo, permitindo a destruição desses tipos de templos. Centenas de anos de história e cultura foram destruídos durante seu reino.


Santo Ambrósio impedindo Teodósio de assistir à missa. Tela de Antoon Van Dyck.


Mas a verdadeira tragédia ocorreu quando os cristãos invadiram a biblioteca e a destruíram, dando fim ao restante do conhecimento herdado pela grande biblioteca de Alexandria. Depois disso, o paganismo foi oficialmente abolido e o cristianismo tornou-se a religião predominante. Apenas 1% da vasta coleção de Alexandria sobreviveu aos tempos modernos. Alguns anos se passaram e o conhecimento do mundo antigo se foi, a maioria dos pagãos fora convertidos ou fugiram de Alexandria e os que restavam na cidade não eram mais poderosos o suficiente para revidar.


Apesar disso, Hipátia continuou a ensinar e era considerada ainda uma mulher muito respeitada e influente na cidade, e tinha amigos poderosos, como Orestes. Orestes foi aluno de Hipátia e foi nomeado prefeito da cidade. Muitos dos seus discípulos, alcançaram postos de destaque no governo e na Igreja. Orestes buscou o apoio e os conselhos de Hipátia nessa nova empreitada.


E ele iria precisar de muito do apoio de pessoas poderosas para colocar ordem na cidade. Um grupo de monges, chamados "Parabolanos", espalhavam o fundamentalismo religioso por toda a cidade. Muitas vezes eles eram usados como assistentes dos bispos. Mas eles também eram utilizados como guarda-costas. Cirilo, um homem ambicioso e um cristão fervoroso, era nomeado o novo bispo da cidade, ele defendia a santidade da igreja e combatia as heresias.



O bispo buscava influência e poder através de seus seguidores cristãos, e o único que o impedia de obter o controle total da cidade era Orestes que tinha o suporte da Elite da cidade como Hipátia e os judeus. Durante esse período havia confrontos violentos entre fanáticos religiosos. Em sua grande maioria cristã e os judeus. Atrocidades foram cometidas por ambas as partes. O bispo, Cirilo poderia estar ou não envolvido, direita ou indiretamente, nesses ataques. As fontes históricas desse período foram destruídas ou perdidas; por isso, é muito difícil saber qual foi o nível de participação de Cirilo desses eventos violentos, ou até mesmo se ele chegou a se envolver.


As autoridades nada faziam para conter essa onde de violência, com receio de gerar uma revolta ainda muito maior. Assim, devido a essas ataques frequentes, os judeus foram obrigados a deixar Alexandria. Com isso Orestes perdeu uma grande parte de seu apoio, restando apenas a elite da cidade e com eles Hipátia. Orestes não poderia punir Cirilo, pois poderia provocar uma nova revolta ainda muito maior.


Devido à influência política que Hipátia exercia sobre o prefeito, Cirilo elaborou sua última jogada contra Orestes. O bispo declarou em público que Hipátia era uma bruxa e que seu instrumento chamado astrolábio que a ajudava em seus estudos era uma ferramenta do diabo para prever o futuro. E que sua influência sobre Orestes era produto de magia. Sendo assim uma multidão movida pela superstição e raiva e junto com fanáticos religiosos, iniciaram uma busca pelas ruas de Alexandria por Hipátia.


Eles a encontraram a caminho do trabalho e a colocaram em uma carruagem e levaram a uma igreja recém convertida, a despiram deixando a completamente nua e a apedrejaram até a morte. Após sofrer uma morte horrenda, eles a esfolaram e cortaram seus membros e queimaram. O assassinato de Hipátia enfraqueceu ainda mais o poder de Orestes, fazendo o mesmo desistir de sua disputa com Cirilo e levando-o a deixar definitivamente a cidade de Alexandria.



Fanatismo religioso.


Há várias versões, sobre o que aconteceu nesse período conturbado da história, o filme "Agora" de 2009, fonte deste texto, monstra de uma forma mais didática possível quais foram os eventos que poderiam ter levado a destruição da cidade. Não sabemos quem atirou a primeira pedra, se foram os judeus, a população cristã ou os pagãos ou o nível de envolvimento de Cirilo com o ocorrido.


Isso tudo continua a ser motivo de controvérsia entre os historiadores, pois não há muitos registros históricos que possam nos mostrar com a certeza o que realmente aconteceu, pois a maioria dos documentos foi destruídos ou perdidos, mas podemos partir do denominador comum de que parte da história de Alexandria foi destruída pelo fanatismo e intolerância religiosa cometidos por todas as partes envolvidas.



Com a queda do império romano e a igreja tomando lugar na maior parte do mundo como uma nova autoridade a ser seguida, baniu se, para a população geral, todo o tipo de ensinamento que permitia qualquer tipo de questionamento ou que estimula-se o pensamento independente e crítico. Essa época ficou conhecida como a "idade das trevas" e reinou por mais de 800 anos. Mas qual foi a consequência da adoção desse tipo de pensamento tão radical?



É impossível dizer, alguns historiadores especulam que esse enorme retrocesso nos impediu de ter uma civilização muito mais avançada do que a conhecemos hoje. Um exemplo disso foi o trabalho do inventor grego que viveu em Alexandria, Heron. Ele inventou o primeiro motor a vapor que se tem conhecimento, 2 mil anos antes que James Watt, engenheiro e matemático que aperfeiçoou a máquina a vapor, um passo que foi fundamental para a Revolução Industrial.


Motor a vapor de Heron.


Ou seja, Heron poderia ter dado início a Revolução industrial há 2 mil anos! Heron e seus sucessores não sabiam da importância dessa invenção na época, mas e se uma outra pessoa notasse seculos depois essa invenção extraordinária e explorasse todo o potencial dessa ferramenta, e se esse aprendizado fosse estimulado como nos tempos iluminados de Alexandria e não visto como uma heresia, o quão nossa sociedade e tecnologia poderia ter avançado, em que tipo de mundo viveríamos hoje!



Legado de Hipátia.


Hipácia produziu uma série de trabalhos sobre aritmética, especialmente inspirada na figura de Diofanto de Alexandria, e medicina. Ao lado do pai, Theon, escreveu comentários acerca dos Elementos de Euclides, treze obras que falam sobre a geometria desse mestre grego. Infelizmente muitas informações sobre Hipátia foram perdidas porque a Biblioteca de Serapum, que abrigava uma série de documentos, foi destruída. O que sabemos de dela atualmente foi reportado pelos seus alunos.


Hipátia, foi um verdadeiro Martiri para a ciência. Ela arriscou a própria vida se recusando a ceder ao fanatismo religioso escolhendo a razão. Ela continuou sua busca pelo conhecimento defendendo a ciência, a matemática, filosofia, astronomia enquanto o seu mundo era destruído. A mesma permaneceu fiel as suas crenças e aos ensinamentos de seu pai, até o final. Pagando um preço altíssimo por isso.


Veja o texto sobre outra mídia digital. Canal: @historiafeminina.



Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:


Hipátia – Wikipédia, a enciclopédia livre


Conheça Hipátia de Alexandria, a primeira mulher matemática da história - Revista


Galileu | História (globo.com)


Biografia de Hipátia - eBiografia Hipátia


História da filósofa grega - Biografias – InfoEscola O mistério da brutal morte de


Hipátia, a primeira matemática da História - BBC News Brasil


Artigo: "A CONSTRUÇÃO DA ALEXANDRIA PTOLOMAICA NA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA" por Joana Campos Clímaco - Doutoranda em História Social na FFLCH-USP.


Youtube:

Timeline - World History Documentaries - Hypatia And The Great Fall Of Alexand...

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