Apelidada dê o terror do sul da China, conheçam Ching Shih, que de prostituta se tornou a pirata mais bem-sucedida da história!
Imagem do canal: @históriafeminina.
CHINA E O COMÉRCIO MARÍTIMO.
Em meados do séc. 14, o mar da China passou a ser território restrito. O comércio com os estrangeiros era permitido, mas somente para aqueles que pagassem um tributo à corte Imperial Chinesa. Isso valia também para a própria população chinesa que era proibida de sair do país. Construiu-se uma barreira invisível entre o mundo civilizado do mundo dos bárbaros estrangeiros, referindo-se, principalmente, aos portugueses e aos britânicos.
Essa supressão marítima continuou por décadas e com isso o tráfico de mercadorias pelos mares começou a valer ouro e a pirataria explodiu! Piratas japoneses e chineses tocavam o terror nas costas do sul da China. Sempre muito bem armados, os piratas foram ficando cada vez mais fortes ao longo dos séculos, e as campanhas militares chinesas falhavam repetidas vezes em contê-los. Apesar desse terreno fértil para os piratas, nenhum comandante dos inúmeros grupos piratas que existiam, se destacou. Mas uma figura inesperada ascendeu ao poder!
ORIGEM DA MULHER PIRATA.
Pouco se sabe sobre a infância e adolescência de Ching Shih, cujo nome significa, literalmente "Viúva de Cheng". Ela nasceu na província de Guangdong, em 1775 e, como muitas outras jovens mulheres pobres na época, ela acabou indo se prostituir nos populares bordeis flutuantes.
A “flower boat,” a floating brothel in Guangzhou, 19th century public domain.
Em 1801, Ching Shih, decidiu deixar sua carreira de prostituta e resolveu marcar seu nome na história, casando-se com o pirata Cheng I, comandante do poderoso "Esquadrão da Bandeira Vermelha", dando seus primeiros passos como uma pirata.
Vale lembrar, que no ocidente era considerado má sorte ter uma mulher a bordo de uma embarcação, pois traria a fúria dos "Deuses do mar". Os marinheiros acreditavam que uma mulher com os seios à monstra acalmava os mares. Ou seja, eles acreditavam que um topless “envergonharia” a natureza e com isso sua raiva seria suprimida. É por isso que vemos figuras de mulheres com os peitos de fora nas proas de barcos e navios.
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Ching Shih estava a salvo dessa superstição, pois no oriente eles não acreditavam nessa idiotice. Antes do casamento, Ching, usou de sua astúcia e propôs um acordo pré-matrimonial a Cheng I. Ela teria o mesmo nível de poder que ele na frota e as riquezas acumuladas seriam repartidas igualmente entre ambos. Cheng I, aceitou os termos e os dois se casaram.
Cheng I, era só mais um aspirante a comandante pirata e não almejava o poder. Mas sua esposa não compartilhava do mesmo pensamento. Ching Shih, tinha grandes planos e em poucos meses, sobre o comando dela, os dois se tornariam o casal mais poderoso dos sete mares!
Segundo o site: "Saber atualizado", que foi a fonte deste texto, nos relata que: Ching transformou a figura do marido na mais popular e influente entre os piratas, ajudando-o a expandir sua frota inicial de dezenas para trezentas embarcações.
Enquanto seu marido era a principal voz e figura de liderança, Ching Shih arquitetava e organizava as ações visando a unificação de pequenas gangues de piratas em uma grandiosa confederação. O casal dividiu os piratas em seis esquadrões de bandeiras: (Vermelha, Preta, Branca, Verde, Azul e Amarela). Cada bandeira era comandada por um líder semi-autônomo o qual, por meio de uma complexa série de obrigações pessoais e familiares, devia obediência à família Cheng, a qual detinha o controle direto do esquadrão da bandeira Vermelha.
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Com esse poderio militar, o casal aterrorizou os mares, empilhando e saqueando todos que encontravam pelo caminho. Todavia em novembro de 1807, Cheng I acabou morrendo misteriosamente. E quando todos pensaram que Ching Shih abandonaria o cargo de liderança para dar lugar a um novo líder homem e viver o resto dos seus dias como uma viúva desconsolada, ela se impôs firmemente em frente ao trono, tomou as rédeas do Esquadrão da Bandeira Vermelha e calculou meticulosamente todos os seus passos para assegurar o seu lugar no topo da hierarquia pirata.
A MAIS PODEROSA PIRATA.
Pouco após se tornar viúva, Ching Shih intensificou suas relações pessoais de modo a legitimar seu lugar de chefia no Esquadrão da Bandeira vermelha. Ela procurou e conseguiu apoio dos dois mais poderosos comandantes dos esquadrões (Pao-yang e Cheng An-pang), evitando assim, surtos de oposição à sua liderança feminina.
Em seguida, usando suas habilidades diplomáticas, fez alianças com todas as bandeiras dos esquadrões piratas, fazendo com que sua presença fosse indispensável aos líderes das facções. E como uma boa pirata deu um ultimato barra ameaça, dando duas escolhas aos líderes das bandeiras: abandonarem a confederação e morrerem, ou se unirem sob a liderança de uma mulher e se tornarem os mais poderosos piratas que já existiram. Bom a maioria escolheu a segunda opção.
Mas para consolidar de forma absoluta seu poder e manter sua posição de liderança do topo da hierarquia pirata, Ching resolveu criar um novo líder para substituir a figura do seu marido. Nesse sentido, Ching precisa de alguém manipulável e que cumprisse suas ordens com fervor, mas que, ao mesmo tempo, impusesse autoridade por si próprio. E para essa posição só havia um homem na mente de Ching: Chang Pao.
Pao era um humilde filho de pescador capturado no mar por Cheng I, quando tinha 15 anos, tornando-se pouco tempo depois seu protegido e seu aprendiz na pirataria. De acordo com alguns autores, havia entre os dois, uma relação homoafetiva. Mas esse fato não é incomum, relações homoafetivas eram frequentes entre gangues piratas.
Logo depois, Cheng I, adota Pao, como filho, mas, ao mesmo tempo, o mantém como amante. Chang Pao, se torna uma extensão da família, funcionando como um membro júnior da confederação. Nesse período, que durou cinco anos, Pao demostrou qualidades de um bom líder, ganhando respeito entre a tripulação. Em 1807, com 21 anos, Pao é escolhido por Ching como seu tenente.
Ching resolveu dar outro passo e escolhe manter a relação complicada que Cheng I tinha com Pao e passou a ter relações sexuais com seu próprio filho adotivo e ex-amante do seu falecido marido. Mais tarde ambos se tornaram marido e mulher.
Assegurado o controle do Bandeira Vermelha, Ching passou a organizar administrativamente a confederação pirata criando um severo código de leis que disciplinava as relações trabalhistas e pessoais entre os piratas. Isso nunca havia acontecido.
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Por exemplo: Quem desafiasse a autoridade de algum comandante pirata ou de Ching, imediatamente perdia a cabeça. Deserção ou ausência do trabalho sem licença resultava no desfile do ofensor na frente todos os esquadrões após ter suas orelhas cortadas. Se a má conduta se repetisse, o ofensor era decapitado.
Além disso, ela estabeleceu penalidades duras para quem violentasse mulheres ou desrespeitassem o casamento. Sim, o poder de Ching era tanto que ela conseguiu implementar ações feministas entre piratas chineses em pleno século 19.
Exemplificando: Se um pirata cometesse um estupro, ele era violentamente morto. - Uma vez que um pirata escolhesse se casar, ele era obrigado a ser fiel à sua mulher, e se cometesse adultério, sua sentença seria à morte.
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Ching, também organizou financeiramente a confederação, gerenciando com mãos de ferro as transações comerciais. Todos os negócios feitos, sendo feitos ou para serem feitos precisavam ter sua ciência e passar por sua aprovação. Ela também manipulou as crenças religiosas.
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Os piratas no Mar do sul da China eram extremamente apegados aos seus Deuses, nunca saindo em uma missão marítima antes da realização de preces. Sabendo disso, Ching e Pao, construirão um templo a bordo em umas de suas principais embarcações e combinavam com os sacerdotes qual seria o sermão do dia, ordenando o que poderia ser dito ou não, assim se a missão fosse perigosa os sacerdotes já eram orientados a dizer que poderia haver “incidentes” no decorrer da excursão pirata. Assim se a missão fracassa-se não seria culpa de Ching ou de Pao e sim a vontade divina dos Deuses.
Com isso uma nova camada de estabilidade sobre a confederação foi adicionada. Com a autoridade política em uma mão e a autoridade religiosa na outra, Shih ramificou e ampliou ainda mais seu poder. Ela conseguiu com muita sagacidade, violência, extorção e suborno, controlar o comércio chinês de sal, produto muito valiosa na época.
Para se ter uma ideia das 270 embarcações do governo imperial somente 4 permaneceram no controle desse ultimo. Além disso, qualquer um que quisesse negociar alguma mercadoria ou transitar pelo mar sobre o domínio pirata era obrigado a pagar uma taxa de proteção pirata, só assim você ficava livre de qualquer ameaça.
Para conseguir manter esse império, Ching, criou órgãos militares e financeiros para gerir e proteger o domínio do comércio de sal, garantindo uma fonte de renda estável para seus subordinados. Além disso, ela separava 80% do lucro dos saques piratas e colocava no “tesouro conjunto”, um tipo de fundo pirata, que apoiava navios com menos lucros, reparações e construção de novos navios e treino de civis para pirataria.
Nesse período, Ching Shih, havia alcançado seu ápice. Como capitã ela chegou a comandar mais de 1.800 navios e mais de 100 mil operários. Em comparação, o superestimado Barba Negra em seu auge comandou uns 300 navios e alguns milhares de tripulantes piratas.
Ching-Shih-by-tamiart-DeviantArt.com.
Curiosidade: Ching Chi é mencionada e aparece em algumas pouquíssimas cenas do terceiro filme da franquia piratas do caribe. O que é frustrante porque um filme sobre piratas não se deu um maior tempo de tela para a maior pirata da história!
Filme: Piratas do Caribe - No Fim do Mundo.
O TERROR PIRATA.
Entre 1804 e 1805, a influência pirata já tinha alcançado todos os níveis do governo, com políticos aliados e oficias de grande patente militar. Com esse poderio militar a Marinha Chinesa, temendo um confronto direto, gastavam a maioria do tempo fora do mar, com desculpas geralmente do tipo “estamos esperando por ventos favoráveis para velejar”, tamanho o medo da Confederação pirata de Ching.
Com nada podendo pará-los, os piratas resolveram empreender massivos ataques em terra firme sob a supervisão de Ching Shih. Alvos favoritos eram as guarnições militares costeiras, ricas em provisões e munições. Habitações costeiras não vinculadas aos piratas também eram atacadas, onde vilas, mercados e campos de arroz eram pilhados.
Em 1808, os piratas governavam em absoluto, matando oficiais de alto escalão do império, além de subjugar navios estrangeiros que possuíam um grande arsenal de armas. Nada fugia do alcance de Ching Shih em seu território, seja chinês ou estrangeiro.
Ilustração: codepen.io
SAÍDA ESTRATÉGICA.
Em 1809, o poder de Ching Shih forçou o governo da China a tomar uma decisão nunca cogitada. Vendo que a situação só piorava e que os piratas não conseguiam ser detidos, os oficiais de governo tiveram que engolir o orgulho e entrar em uma série de negociações com os desprezados "bárbaros europeus".
Chineses, britânicos e portugueses se uniram em direção a uma causa comum, a eliminação da praga pirata. Isso resultou em um grande embate na baía de Tigre, onde a Marinha Portuguesa, com seus navios de guerra superiores e auxiliados pelo governo Chinês, conseguiu derrotar o esquadrão Bandeira Vermelha e expulsar os piratas dessa região, na assim posteriormente conhecida Batalha na Boca do Tigre.
Pintura: Batalha na Boca do Tigre.
Ching, começou a perceber que era hora de começar a pensar em uma saída estratégica, mas mantendo os privilégios e riquezas conquistados ao longo de sua vida pirata. Além disso, mesmo com sua magnífica administração, atritos começaram a surgir entre os líderes das bandeiras piratas, indicando um desgaste natural no sistema. E isso piorou após a derrota na Batalha na Boca do Tigre.
A única alternativa para resolver isso, na cabeça de Ching, era a rendição pacífica ao governo chinês. Inicialmente os piratas resistiram à ideia de rendição, mas gradualmente começaram a aceitá-la, mas somente com a garantia de que fosse sob seus termos. E graças a sua incrível habilidade de argumentação e barganha, Ching convenceu o governo, chinês, a conceder perdão a todos os piratas sobre o seu comando e ainda que mantivessem os seus ganhos de um ano de pirataria, e para si mesma conseguiu manter as suas riquezas, tendo o direito de receber algumas regalias reais.
Foi concedido a Pao e a outros líderes piratas altos cargos administrativos e militares no próprio governo chinês. Em 1822, Pao, acabou morrendo, e Ching acabou focando na criação do seu único filho, o qual tinha na época 11 anos. Ela chegou a abrir até mesmo um cassino luxuoso. Acabou morrendo em 1844, com 69 anos.
CONCLUSÃO
Apesar de toda a violência e atividades ilegais em torno desta história, a vida de Ching Shih, foi extraordinária. Mesmo tendo uma origem humilde, pouca escolaridade e ser uma ex-prostituta, ela se tornou, uma das mais poderosas mulheres na história, criando a mais poderosa e temida confederação pirata que já existiu. Ching inverteu o papel da mulher na época, ao ser responsável pela construção de dois poderosos e influentes homens (Cheg I e Chang Pao) e não o contrário.
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Fontes; Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:
https://www.saberatualizado.com.br/20... - (FONTE PRINCIPAL). https://ichi.pro/pt/ching-shih-uma-pr...
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