Você sabia que a cerveja foi uma invenção feminina! Sim, Sim, Sim! É isso mesmo que você leu! É muito comum associar esta bebida ao universo masculino. Mas nem todo mundo sabe que a cerveja, uma bebida tão popular e presente no mundo inteiro foi criada, desenvolvida e aprimorada por mulheres!
Origem.
Os primeiros registros de fabricação de cerveja têm aproximadamente seis mil anos e remetem ao povo sumério, que viviam na região da mesopotâmia, atual Iraque. Mas é provável que a cerveja tenha surgido na civilização humana muito antes do que isso.
Imagem do canal @históriafeminina/ vídeo-Cerveja, uma invenção feminina.
A bebida teria surgido por acaso. Enquanto os homens saíam para caçar e prover o sustento da família, uma tarefa atribuída na época aos homens, as mulheres ficavam responsáveis por colher e cuidar dos grãos, dos alimentos em geral, uma tarefa está designada as mulheres. Pois bem, elas misturavam esses grãos com água e algumas ervas, servindo esse alimento para a família, sendo distribuído também para os povoados locais.
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Os grãos que não eram consumidos acabavam mantidos em jarros, tomando chuva e sol, sendo fermentados e formando um líquido. As mulheres perceberam que esse líquido tinha um sabor gostoso, que agradava à maioria das pessoas que o bebiam.
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Logo a mulherada percebeu que a bebida tinha um futuro promissor e então começaram, a aprimorar suas habilidades e adquirir conhecimento na produção deste líquido. Este aprendizado foi repassado para as gerações futuras de mulheres que iniciaram a primeira produção de cerveja da qual se tem conhecimento. Surgindo daí as primeiras mestres cervejeiras da história!
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Devido a este “job”, muitas mulheres desse período, começaram a ficar responsáveis por administrar e até serem donas das tabernas ou “casas de cerveja”— sim, os bares da antiguidade era lugar de mulher.
Milhares de anos depois, por volta de 1.800 a.C., foi escrita, o que muitos consideram, a primeira receita de uma cerveja. Feita em homenagem a Ninkasi, a Deusa Suméria da Cerveja, sim, meus amados, se o vinho tem um deus, nada mais justo que a cerveja tenha uma deusa!
Baco, deus do vinho. Ninkasi, deusa da cerveja.
No século XII, o lúpulo, ingrediente principal das cervejas atuais, foi descrito pela primeira vez, por uma mulher, a freira alemã, Hildegard von Bingen. Além de freira cervejeira, ela era escritora e naturalista, e foi a primeira pessoa a descrever o lúpulo de maneira científica, destacando suas propriedades preservativas quando adicionado à cerveja. Ou seja, se não fosse por ela, não haveria a cerveja como conhecemos hoje.
Nas sociedades antigas a cerveja era considerada um símbolo feminino e de fertilidade, um presente de uma deusa, como vimos — e nunca de um deus masculino. Este foi o caso do Egito, dos Incas e da Escandinávia, morada dos famosos vikings. Em todas essas sociedades a cerveja era produzida por mulheres. Mas em alguns lugares, a cerveja não era apreciada da mesma maneira. “Os gregos e os romanos desprezavam a cerveja, a bebida das mulheres e dos bárbaros, preferindo o vinho”.
Bom azar o deles né! Pois a cerveja desprezada por esses caras se espalhou pelo mundo todo. E foi na Inglaterra que a cerveja se popularizou.
Esposas da cerveja.
As mulheres inglesas faziam e vendiam a bebida como uma forma de complementar o orçamento familiar. Essas mulheres eram conhecidas como “Alewifes” ou esposas da cerveja.
A esquerda uma representação antiga de “Mother Louise”, uma “alewife”, com um copo de cerveja na mão.
A direita uma ilustração de uma mulher na antiguidade fabricando cerveja
Uma fã ilustre da cerveja era a rainha Elizabeth I, a amante da bebida costumava dizer;
“Uma refeição perfeita é feita com pão, queijo e cerveja”.
Mas com a caça, as bruxas, que se deu início no século XV e teve seu “fim” no século XVIII, este cenário exclusivo das mulheres tem uma reviravolta! Isto porque muitas mulheres acusadas de bruxaria eram, na verdade, as melhores fabricantes de cerveja da idade média. Proibidas por lei de possuir propriedade ou ter seu próprio negócio, as mulheres cervejeiras — muitas delas solteiras, viúvas ou às margens da sociedade — precisaram ser criativas para ganhar dinheiro com a venda da bebida. A maneira que encontraram foi improvisar tabernas em suas casas e fabricar a cerveja ali mesmo!
Imagem ilustrativa (Medieval Inn and Tavern _ Lost Kingdom RPG and Writing Resources).
A historiadora e sommelier de cerveja inglesa, Jane Peyton, explica que: para fabricar a bebida, era necessário um grande caldeirão. Quando a bebida começava a fermentar, o líquido no caldeirão começava a borbulhar, come se fosse mágica. E para mexer o caldeirão, um pedaço grande de madeira com um ramo na ponta era utilizado.
Por trabalharem com cereais o local de trabalho ficava propício para o surgimento de ratos — e nada melhor para espantar ratos do que um gato. A vassoura era pendurada na porta das casas, para indicar que ali se vendia cerveja. E finalmente, para serem reconhecidas nas tabernas ou mercados em meio à multidão, as mulheres cervejeiras usavam uma versão exagerada do chapéu pontudo muito popular entre a nobreza. Surge daí a imagem clássica das bruxas, que temos até os dias hoje.
Ilustração de uma bruxa do final do século XIX – com vassoura, gato e caldeirão.
Nesse mesmo período, de independência feminina por parte dessas mulheres, a Europa iniciava uma caça às bruxas fomentada pelo Vaticano e pelo patriarcado. Os homens, pegando "carona" na Inquisição, começaram difamar essas mulheres, acusando-as de serem pagãs a serviço do Diabo. As motivações são as das mais variadas: fosse por medo da independência econômica das mulheres cervejeiras, pelo conhecimento de botânica que muitas tinham, em uma época que a química era desconhecida, ou por simples ignorância.
Nem todos os homens acreditavam que elas eram de fato bruxas é claro, mas muitos defendiam que produção e comércio de cerveja não era para as mulheres, já que, segundo eles, o tempo investido no negócio era desviado dos cuidados de casa e dos filhos.
Independente da motivação, a cerveja era uma bebida extremamente popular, e bastante lucrativa, a proibição do consumo, bem como a sua produção, era praticamente impossível de se fazer, assim os inquisidores, não condenaram a bebida e sim suas fabricantes — as mulheres — deixando a feitura e desenvolvimento da bebida, para os homens que passaram a lucrar o dinheiro que antes era exclusivo das mulheres.
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Assim, com o monopólio sobre a cerveja, os novos “donos” iniciaram a construção de tabernas maiores e mais limpas que as improvisadas nas casas das mulheres, e passaram a acusá-las de vis e enganadoras, sujas e insalubres, que se aproveitavam da embriaguez dos clientes para lucrar. Não satisfeitos, com esse crime de difamação, e buscando uma forma de eliminar a concorrência feminina de uma vez por todos, os novos donos, com o apoio de seus velhos aliados (Igreja e o patriarcado), começaram a acusar as mulheres cervejeiras de bruxas. Usando e invertendo seus símbolos e ferramentas de trabalho, inclusive seus animais como provas de tal crime.
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A acusação era grave, já que as moças tidas como bruxas não eram apenas desprezadas pela sociedade, mas também poderiam ser presas e mortas. No decorrer de um século e meio, quase 100 mil mulheres foram perseguidas, levadas à fogueira ou à forca, e milhares delas eram cervejeiras.
Mulheres sendo assassinadas por bruxaria.
Assim, a cerveja foi retirada das mãos e do universo feminino, passando gradualmente a ser considerado um elemento do universo masculino. A caça as bruxas durou três séculos, tendo seu início no século XV e atingindo seu apogeu nos séculos XVI a XVIII.
Revolução Industrial.
Quando começou a se dar a Revolução Industrial, as novas tecnologias e métodos de fabricação diminuíram, de modo geral, a necessidade da participação feminina na feitura da cerveja. Em uma época em que o trabalho fora de casa era quase que exclusivamente masculino.
Imagem iStock.
Para piorar, as mulheres não podiam ser donas de propriedades nem pedir empréstimo em bancos – o que as impedia de, por exemplo, abrir suas próprias fábricas de cerveja.
Imagem do canal @históriafeminina/ vídeo-Cerveja, uma invenção feminina.
No final do século XVIII, não só a feitura havia se tornado, definitivamente, um trabalho totalmente masculino, como os bares e o próprio imaginário ao redor da cerveja. Tal processo de apropriação se deu desde o século XV até meados do século XVIII, ou seja, 400 anos de apropriação masculina sobre a bebida.
A história é escrita por quem está no poder.
Segundo o jornalista e escritor, Victor Paiva, em seu texto para o site Hpiness, História é poder. Por isso, quase sempre ela é contada do ponto de vista de quem justamente possui o poder — um seleto grupo formado quase que absolutamente por homens. Não é por acaso, assim, que simplesmente desconhecemos que grandes invenções da história foram feitas por mulheres.
Do primeiro programa de computador à tecnologia Wi-Fi, passando pela geladeira até o bote salva-vidas, foram criações feitas por mulheres que superaram as limitações impostas pelas culturas e até leis vigentes e se imortalizaram com invenções verdadeiramente revolucionárias — e muitas permanecem pouquíssimo reconhecidas. Esse é o caso de um dos maiores símbolos de “masculinidade”, a cerveja! Uma criação feminina.
Imagem do canal @históriafeminina/ vídeo-Cerveja, uma invenção feminina.
A pesquisa utilizada neste texto, tendo por base o texto de Paiva, foi feita por Peyton, uma das mais respeitas historiadoras de cerveja do mundo, que aponta que o DNA da cerveja é feminino. Essa afirmação na pesquisa dela — é muito importante, ao revelar o quanto tais preconceitos machistas são baseados na mais pura, direta e literal ignorância.
Jane Peyton - Imagem do canal @históriafeminina/ vídeo-Cerveja, uma invenção feminina.
Mestres cervejeiras.
A mulher está no passado, no presente e no futuro da cerveja. Cada vez mais vemos mulheres se aventurando nesse universo e criando cervejas incríveis de todos os estilos”, é que diz a Sommelière brasileira de cervejas, Beatriz Ruiz. Ela foi a primeira pessoa no Brasil a possuir a mais importante certificação cervejeira do mundo.
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Criado em 2009 nos Estados Unidos, o "Cicerone" certifica Sommeliers em todo o planeta. Ela ressalta que:
“O público-alvo da cerveja ainda é majoritariamente masculino e, até em função disso, muitos homens não aceitam que entendam menos a respeito da bebida que uma mulher. Mas a cada dia que passa, mais e mais mulheres ocupam seu espaço no mundo cervejeiro, criando, produzindo, avaliando e bebendo cerveja. É um caminho sem volta”, afirma ela.
Beatriz também é fundadora da confraria Goose Island Sisterhood, projeto cujo objetivo é debater cerveja no universo feminino e que, inclusive, produz suas próprias cervejas. Todo o lucro da venda das cervejas da confraria é doada para instituições que lutam por causas feministas. “Nosso objetivo é informar e empoderar ainda mais as mulheres sobre o universo cervejeiro”, complementa a mestra cervejeira.
Conclusão.
Pegando emprestado as palavras de Victor Paiva, digo que dá próxima vez, que alguém supor que uma mulher prefira beber vinho somente por ser mulher, ou partir do princípio que mulheres não devem beber cerveja por se tratar de uma bebida “masculina”. Lembre-se que se hoje tomamos cerveja como forma de lazer e prazer, é graças ao trabalho das mulheres — das bruxas que nada fizeram além de nos apresentar uma verdadeira invenção divina!
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Fontes; Textos retirados na íntegra e trechos modificados dos seguintes sites:
https://www.hypeness.com.br/2018/08/a... (FONTE PRINCIPAL).
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